Luan Layzon – Psicólogo

18/04/2020

A vida em quarentena causada pela epidemia de coronavírus ao redor do mundo mudou a maneira como a gente vive e como diversas necessidades básicas são solucionadas. Em tempos de isolamento e distanciamento social, o sexo seguro é uma parte importantíssima para contenção da Covid-19.  E o sexo na quarentena, como fica? Coronavírus veio para atrapalhar ou ajudar a vida sexual dos casais? Pensando nisso o Jornal A Praça entrevista o psicólogo, especialista em Sexualidade Humana e Terapia Sexual, Luan Layzon, para entender como os casais estão lidando com a vida em isolamento. Muito mais tempo juntos, tarefas da casa, home office… como isso tudo interfere na vida sexual e amorosa do casal?

A Praça – A COVID-19 é sexualmente transmissível?

Luan Layzon – Por ser uma novidade, não existe um estudo que comprove que a Covid-19 é sexualmente transmissível, não existindo também orientações oficiais da Organização Mundial da Saúde voltadas para o assunto sexo e coronavírus, porém, sabemos que a infecção pode acontecer pelo contato íntimo, através de secreções, como a saliva, muco das vias respiratórias e até as fezes. Neste caso o beijo, sexo oral e outros comportamentos sexuais podem facilmente transmitir o vírus. Sobre a contaminação a partir das fezes, uma pesquisa realizada na China e publicada pela revista Jama afirma que o vírus foi encontrado vivo em fezes, sendo elas um possível transmissor secundário, então os cuidados também se estendem ao sexo anal. O coronavírus não foi encontrado no sêmen e nem no fluido vaginal. É do conhecimento de todos que as autoridades sanitárias neste momento de pandemia recomendam minimizar ao máximo os contatos físicos com a finalidade de reduzir a propagação do vírus, estamos adaptando nossas rotinas de estudo, de trabalho, de lazer, o que não se diferencia das relações sexuais, que também precisam de adaptações. Então, é possível uma relação sexual sem contato físico? Penetração? Sem beijo? Sim, é possível e nesse momento é fundamental!

A Praça – O momento parece ser uma época delicada para ter relações. Como as pessoas podem driblar a barreira da quarentena no intuito de manter suas experiências sexuais?

Luan Layzon – O momento demanda criatividade. A masturbação é uma prática que não apresenta grandes riscos de contaminação, essa atividade sexual pode ser feita de maneira solitária ou com a parceria, lembrando que tudo tem que ser feito com higienização das mãos e dos sextoys (os famosos brinquedos sexuais como vibradores e bullets) com a lavagem com água e sabão. Para auxiliar o momento da masturbação, pode-se usar estímulos como fotos, vídeos, contos eróticos ou uma boa música, caso a pessoa goste de tudo isso. É importante evitar encontros sexuais com pessoas que não fazem parte do círculo de contatos próximos, como encontros mediados via aplicativos como o Tinder e o Grindr. Outras possibilidades para quem gosta de flexibilidade na parceria sexual são os mecanismos de sexo virtual, sexting (divulgação de conteúdo erótico via celular, como os “nudes”) e salas de bate-papo, contudo, é importante estar atento aos cuidados com sua privacidade. Enfim, as vivências sexuais, sejam elas solitárias ou com parcerias são experiências subjetivas e cada pessoa pode desbravar com segurança seu erotismo, desejo e sensualidade.

A Praça – Há relatos na imprensa internacional de que a quarentena para conter o novo coronavírus foi o estopim para o aumento do número de divórcios na China. Como se justifica e/ou se evita esse fenômeno?

Luan Layzon – Com relação a vivência de casais, a quarentena possibilitou, em alguns casos, distanciamentos, deixando cada um em sua casa, ou, em outros casos a intensificação da aproximação dos casais, quando estes dividem a mesma casa. Casos não tão comuns também ocorreram, como os de casais separados que voltaram a morar juntos provisoriamente para dividir os cuidados com os filhos. De fato, após o relaxamento do isolamento na China, foi percebido um número recorde de pedidos de divórcio, sendo uma questão bastante complexa e que talvez não possua ainda uma resposta. Não podemos generalizar, talvez em alguns casos a quarentena apenas evidenciou problemas e questões preexistentes que foram intensificados pelos estresses, medos e ansiedades advindos da pandemia. Outro dado relevante e inadmissível é que a violência contra a mulher na China também cresceu de forma significativa na pandemia, no Brasil o efeito parece se repetir, o Ministério Público de São Paulo afirma que os casos de violência contra a mulher aumentaram em 30% na cidade. A justiça do Rio de Janeiro relata aumento de 50% nos casos de violência doméstica. Nesses casos de violação, a vítima pode acionar os serviços de defesa da mulher, ligando 180, ninguém é obrigado a viver a quarentena dividindo o mesmo espaço que o agressor. Acredito que mesmo nesse período de incertezas, novidades, distanciamentos e proximidades, as individualidades devem ser preservadas, os casais precisam delimitar bem isso, entendendo que preservar as construções individuais e ter o espaço simbólico da individualidade não fere o contrato do relacionamento.

A Praça – Especialistas afirmam que o momento atual é “de privação de intimidade física”, mesmo para os casais que estão isolados juntos. Até que ponto a falta de sexo e a intimidade física podem ser prejudiciais aos parceiros?

Luan Layzon – A vivência satisfatória do sexo proporciona aos casais experiências de intimidade, comunicação, sensibilidade, afeto, bem-estar entre outros benefícios, colaborando para o fortalecimento da relação. Em meio ao isolamento e aos cuidados de prevenção ao Covid-19 os casais são provocados a mudar suas rotinas sexuais e isso vai depender da criatividade e ajustamento de cada casal. As limitações na relação sexual podem repercutir de diversas formas na vida sexual dos casais, reaproximando, reanimando e até mesmo revelando conflitos e dificuldades. Cabe ao casal posicionar-se, estar aberto ou não para encontrar as novas possibilidades de vivenciar a relação sexual diante das limitações da pandemia.

A Praça – A prefeitura de Nova York fez um manual de sexo seguro que viralizou por conter informações bastante específicas sobre como deve ser o comportamento sexual durante os tempos de quarentena. Enquanto estudioso da área qual a sua opinião sobre a medida, ela se adequaria ao nosso país?

Luan Layzon – São medidas relevantíssimas, inclusive usei o manual como referência e orientação. Nele encontramos informações e recomendações de prevenção ao coronavírus no contexto dos comportamentos sexuais. Nesse período de instabilidade muitas informações nos chegam e precisamos filtrá-las, a rede está cheia de “Fake News” e pelo fato da sexualidade e da relação sexual ainda serem tratadas como tabu em nossa sociedade, fragilizando a educação sexual, notícias falsas podem passar facilmente como verdades. Uma situação que me chamou bastante a atenção foi a notícia de que o orgasmo aumentaria a imunidade contra o coronavírus. A Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, preocupada em informar de maneira honesta, publica uma nota em resposta. A SBRASH afirma que estudos apontam que a atividade sexual impulsiona o sistema imunológico, porém, nenhum estudo afirma que os índices alcançados por esse impulso protegem do Coronavírus. Lidar com o Coronavírus é algo muito novo, então não sabemos muito sobre. É importante se informar em sites e materiais oficiais.

A Praça – As instituições de saúde da maior metrópole do mundo deixam claro que a masturbação é o tipo de sexo mais recomendado durante esse momento tão singular da história humana. “Você é o seu parceiro mais seguro”, diz o documento. O momento pode servir de descoberta do próprio corpo? 

Luan Layzon – A repressão sexual e consequentemente o déficit na educação sexual, reafirmam a representação negativa do sexo, então tudo que se relaciona a ele, como o desejo, o erotismo, a sensualidade etc, é tido como feio, sujo, doentio ou pecaminoso e por mais que essas questões afetem os homens, por uma questão histórica alicerçada no patriarcado e no machismo, parece ganhar uma proporção bem maior na experiência das mulheres. Pelo menos, a grande maioria dos homens reconhecem sua genitália e sabem manuseá-la em busca do prazer, isso é bem mais complexo para as mulheres. Um exemplo bem atual ocorreu em um Reality Show, exibido em rede nacional, no qual uma das participantes parecia não conhecer a anatomia da vulva e da vagina, chegando a desconhecer o canal da uretra, acreditando que a vagina e a uretra seriam um único canal, demonstrando o desconhecimento do próprio corpo. A falta de conhecimento ficou evidente para todo o público e repercutiu nacionalmente. Enfim, sempre é tempo para reconhecer o corpo, entendê-lo e aprender com ele, assentir o prazer, perceber-se como um ser erotizado, que deseja e é desejado.

Luan Layzon Souza Silva é psicólogo e sexólogo (CRP11/10527), especialista em Saúde Mental; Terapia Sexual; Sexualidade Humana, Formação em Sexologia Clínica, membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana – SBRASH. Atende em Iguatu/CE na Clínica Fisio Feeling, em Psicoterapia Individual, Psicoterapia de Casal e Terapia Sexual.

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