Agricultor de 86 anos trabalha diariamente produzindo verduras e frutas

Sorriso discreto sob a proteção do chapéu, seu Mozar disse que mantém a atividade agrícola por prazer “até quando puder”.

12/03/2022

Honório Barbosa

Especial para A Praça 

 

Quem percorre áreas rurais no sertão cearense observa a cada ano a diminuição de área de plantio de culturas na modalidade de sequeiro (depende exclusivamente da chuva). As terras ficaram ociosas. Os jovens se afastaram do campo. Alguns mais velhos, entretanto, permanecem.

Um exemplo da perseverança dos idosos na lida do roçado está na localidade de Lagoa de Iguatu, onde encontramos José Félix de Araújo, conhecido por Mozar. E o que desperta a atenção é a idade do agricultor – 86 anos – e a disposição dele em continuar trabalhando diariamente. “Não tenho nenhum problema de saúde, a não ser poucas dores na coluna”.

Sob sol ou chuva, Mozar está na horta, em uma área cedida pela irmã dele Zuíla Araújo Chaves, plantando, limpando, cuidando dos pés de coentro, cebolinha, mamão, pitaia, quiabo, manga, laranja, feijão e bata-doce.

“Sou aposentado como agricultor e continuo trabalhando porque gosto muito, é um divertimento, um passatempo”, esclareceu. “Não quero ficar o dia em casa, sem fazer nada.  Quando me deito, eu fico doente, e quando faço movimento, fico bem”.

Pelas palavras de seu Mozar, é previsível que ao ser indagado até quando quer continuar trabalhando diariamente, cuidando do pomar, ele respondeu que “quero vir aqui até o dia que puder”. O trabalho é diário, mas por meio-expediente.

A produção das hortaliças é vendida para uma freguesia e o excedente é distribuído entre a família. “Todos comem daqui, sem veneno”, frisou. Nesse período chuvoso, o crescimento de hortaliças é prejudicado e, por isso, seu Mozar decidiu iniciar um plantio de bata-doce. “Vamos colher quando começar o verão”, prevê.

Algodão e serestas

O agricultor Mozar começou a trabalhar cedo, aos sete anos de idade. Acompanhava o pai na lida do roçado – plantio, roço e colheita. Uma forte lembrança é o tempo áureo do cultivo de algodão. “Era muito bom e plantei muito nas terras arrendadas dos Mendonças (no entorno da Lagoa de Iguatu) e o último ano foi em 1986, quando fiz 100 tarefas de algodão e o bicudo chegou e acabou com a metade”.

O município de Iguatu já foi um dos maiores produtores de algodão do Ceará, mas a partir da segunda metade da década de 1980, a chegada da praga do inseto bicudo, aliada à queda de preço internacional da fibra e mudanças na forma de financiamento para custeio agrícola, tornaram o cultivo do conhecido ‘ouro branco’ inviável.

“O campo era movimentado com homens e máquinas trabalhando, plantando, colhendo”, recorda Mozar. “O dinheiro circulava e nas cidades as usinas (beneficiamento de algodão) empregavam muita gente”.

Antes de casar, Mozar gostava de cantar e animar serestas entre amigos e parentes, nas noites sertanejas enluaradas. “Cantava por diversão e tocava violão”, pontuou. Após o matrimônio, deixou as práticas artísticas de lado, mas permanece como cantor no coro da igreja Adventista do Sétimo Dia.

 

Família

Mozar foi casado por 62 anos com Maria Gonçalves de Oliveira Araújo, que morreu em setembro de 2020, aos 78 anos, vítima de Covid-19. O casal teve dez filhos: Raimunda (Leda), Gerlândia e Maria (professoras); Antônio, Aurício, Eliomar e José (construtores); Milândia (advogada, trabalha e mora nos Estados Unidos); Paulo (tenente dos Bombeiros); Idelânia (lojista).

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