Ascensão da direita

23/04/2022

A ascensão da direita nos últimos quatro anos, não foi um processo puramente oriundo do antipetismo. O que não significa dizer que isso não tenha tido uma forte influência na transição do rumo direitista que o brasileiro, de um modo geral, tomou.

Os inúmeros casos de corrupção da era petista, obviamente, além de promover a derrocada de anos de hegemonia esquerdista (desde 2003, não esqueçamos), colaborou para um repúdio, por parte de uma grande massa da população, pelo Partido dos Trabalhadores.

Mas não foi apenas esse o fator para a referida guinada direitista ante o esquerdismo há muito apregoado, disseminado em todas as áreas do Ensino, praticamente. A razão, meu caro leitor, é que o advento das redes sociais, com sua força descomunal, ofereceu ao eleitor as ferramentas necessárias para que o mesmo formasse a sua opinião. Agora, não mais dependendo das mídias sensacionalistas e suas informações e notícias tendenciosas, deturpadas e doutrinárias.

O brasileiro comum passou a se interessar mais por política. E isso fez grande diferença, posto que agora, munido de informações diversas e formando suas próprias opiniões, tanto da esquerda quanto da direita, as inúmeras classes sociais puderam visualizar o cenário por uma perspectiva bem mais ampla do que enxergariam em tempos de outrora, onde as fontes eram diminutas e, como disse, unilaterais, dada a supressão, por parte da esquerda, com relação ao pensamento liberal e conservador que a direita, grosso modo, sustenta.

Ignorando os tolos que insistem em debater e defender radicalmente a extrema esquerda ou a extrema direita, aqui nos interessa o não fanatismo, o bom senso, a lucidez e o desamor a partidos, sejam eles quais forem. Estou me referindo, isso sim, exclusivamente à ascensão de uma forma de pensamento (direita) em detrimento da outra (esquerda). Deixemos aos néscios as suas paixões por ideologias torpes. Evoluamos.

Vimos, portanto, um chefe do Executivo chegar ao poder, gastando menos do que um deputado – algo impensável, nunca antes visto. Com pouco espaço (menos de 10 segundos) para se pronuncias durante o horário eleitoral gratuito – algo que o saudoso Enéas Carneiro, embora utilizasse tal tempo exíguo com maestria, não chegou nem perto de obter êxito, infelizmente.

Outro fator importante a lembrar, é que o presidente concorreu por um partido minúsculo, sem representatividade. Durante décadas, não se chegava ao poder sem dispor de uma grande quantia em dinheiro, sem tempo considerável na mídia de rádio e televisão, e, claro, sem concorrer por um partido grande, expressivo, como o PSDB ou o PT, por exemplo.

É evidente que as mudanças no processo político também contribuíram, posto que as empresas privadas já não mais poderiam custear campanhas. Para isso, houve a criação do fundo eleitoral… Mas isso é assunto para uma outra oportunidade. Por hora, pretendo não me estender para além da constatação do perfil do eleitor politizado germinando no seio da liberdade intelectual.

Por fim, entendo que o processo para a evolução da direita ainda está engatinhando. Bolsonaro não é um fim, mas apenas um meio – o único possível naquele momento – pelo qual a direita vislumbrou uma oportunidade de chegar ao poder. Estamos, repito, longe de chegarmos onde queremos chegar, que seja, ao pleno amadurecimento político!

Que tal ‘aparelhamento’ do Estado esteja voltado para o pleno funcionamento do capitalismo (com o mínimo de falhas, embora, claro, reconheçamos as suas imperfeições, posto que não existe um sistema político e econômico perfeito, evidentemente), incidindo sobre o mesmo, quando necessário, e retraindo-se quando não necessário.

Por um país onde as pessoas – os cidadãos comuns, principalmente – leiam mais livros políticos e menos (ou nenhuma) autoajuda. Que assistam a mais documentários ao invés de risíveis palestras motivacionais pseudointelectuais. Por um país de intelectuais – sejam eles de esquerda ou de direita – descomprometidos com o fanatismo partidário e preocupados verdadeiramente com o conhecimento e sua incessante busca.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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