Iguatu se despede de Jairo Teixeira: servidor, amigo e contador de histórias

17/05/2025

Faleceu na última quinta-feira, 15, aos 79 anos, Jairo Alves Teixeira, figura marcante da cidade de Iguatu. Conhecido tanto por sua trajetória como servidor público quanto pela sua presença na vida social da cidade, Jairo deixa um legado de afeto, compromisso e muitas histórias que continuarão sendo contadas por quem conviveu com ele.

Jairo batalhou por cinco anos contra um câncer de cólon metastático. Inicialmente controlado com imunoterapia e posteriormente com sessões de quimioterapia, o quadro se agravou nos últimos dois meses, especialmente na última semana. Ao lado da companheira de toda uma vida, Regina Lúcia – com quem manteve união estável por 50 anos – e do filho único Eric Teixeira, enfrentou a doença.

Serviço público

Com 35 anos de dedicação ao INSS, Jairo atuou como chefe do setor de benefícios do Seguro Social, onde marcou colegas e beneficiários. Tinha uma relação quase sagrada com o trabalho. “Meu pai costumava dizer que tinha aversão ao absenteísmo. Ele nunca faltou um dia de serviço”, conta Eric, com orgulho. “Atendia a todos com justiça, paciência e respeito”.

Para Jairo, o conhecimento era um bem inalienável. Incentivava a leitura e afirmava que “ninguém pode tirar da gente o saber”. Após a aposentadoria, passou a se dedicar quase integralmente à leitura e à escrita. “Ele dizia que devorava livros”, lembra o filho. Na internet, usava pseudônimos para escrever textos e poemas, em blogs e redes sociais, mantendo sempre viva sua veia literária.

Família e amigos

Embora não fosse o irmão mais velho, Jairo era uma figura paterna para toda a família. Conselheiro, sempre presente nos momentos difíceis, era o tipo de pessoa que fazia questão de apoiar os seus. “Era como se fosse o pai de todos. Ligava, aconselhava, abraçava as dores dos outros como se fossem dele”, diz Eric.

Sem netos, seu maior legado familiar foi o vínculo forte com o filho e a companheira de vida. No entanto, para além da família, Jairo cultivava com igual intensidade suas amizades. Frequentador assíduo de locais tradicionais da cidade como o Bar do Maia e o Bar de Zé Almino, também participava de associações como o CRI e a AABB. Nessas rodas de conversa e mesas de bar, construiu laços profundos e inesquecíveis. “Ele era uma mistura de personalidade culta e personagem folclórico”, afirma Eric, rindo.

Contador de histórias

Jairo não era só conhecido. Ele era lembrado. A cada mesa de bar, uma história; a cada roda de amigos, uma gargalhada garantida. Tinha o dom de transformar situações banais em episódios cômicos, muitas vezes misturando realidade e imaginação com maestria. “Uma vez, no antigo Gula-Gula da praça da Matriz, ele estava bebendo com um amigo que queria ir embora. Fingindo ser algum tipo de sensitivo, colocou a mão no peito e disse: ‘Rapaz, não vai agora não… acabo de ter um pressentimento horrível contigo’. O amigo assustado ficou. E depois de alguns copos, ele dizia: ‘Pronto, agora passou, já pode ir’”, relembra Eric, entre risos.

Essa é apenas uma entre tantas histórias que fazem parte do folclore pessoal de Jairo Teixeira – histórias que, segundo o filho, dariam facilmente uma coluna semanal nos jornais da cidade. “A memória do meu pai vive nas risadas que ele provocou, nos conselhos que deu, no exemplo que foi e no amor que espalhou por onde passou”, conclui Eric.

Legado

Jairo Teixeira foi mais que um servidor público, mais que um leitor ávido, mais que um bom amigo ou um bom pai. Foi um personagem central na vida de Iguatu, uma referência de bom humor, cultura, responsabilidade e generosidade. Seu nome segue ecoando nas conversas dos que o conheceram, nas esquinas onde contava suas histórias e nas páginas não escritas dos livros que tanto amava.

 

Jairo Teixeira, ou simplesmente Jairão, assim, como o tratei sempre

“Iguatu perdeu ontem, com a morte de Jairo Teixeira, um dos seus cidadãos mais nobres, no sentido mais significativo da adjetivação. Primo e amigo queridíssimo, Jairo deixa-nos ao final de uma luta desigual e profundamente dolorosa, sem jamais perder sua firmeza exemplar e, acreditem, rir das adversidades. Foi assim há poucos dias, quando o vi pela última vez, num leito de hospital: contou piadas, gargalhou, como se para dizer, bem ao jeito de Pessoa, o poeta português, que “a vida vale a pena, se a alma não é pequena”. Tinha alma grande, dessas de que nosso tempo anda tão carente. De tudo fazia galhofa, como se para tornar a vida mais leve, e o mundo melhor. Ao lado de ser, deixo isso claro, um homem exemplar, como chefe de família, como amigo, como cidadão, como servidor público generoso com os mais pobres, a quem ajudava sempre que o procuravam em busca de auxílio. Ainda sinto na mão o aperto de sua mão, quando nos despedimos, o olhar sereno que era mesmo uma de suas marcas fisionômicas. Descansará em paz, entre amigos improváveis, onde quer que esteja. Deixa-nos, a todos nós, o exemplo de desinteressada amizade, coisa tão rara nos dias atuais! E uma saudade imensa!”.

Álder Teixeira

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