Depois de um longo período de ensaios e preparativos, chegou a melhor época do ano, junho, mês mais festivo, cheio de tradições, cultura e religiosidade, principalmente para os grupos juninos.
Em Iguatu, a quadrilha Junina Santo Antônio este ano iniciou a temporada trazendo para os palcos o espetáculo: “Canudos: Um Sopro de Resistência!”, que retrata a saga de um lugar que se tornou símbolo de luta, resistência e esperança no sertão nordestino, enredo inspirado na história real da comunidade de Canudos, no sertão baiano, liderada por Antônio Conselheiro. A apresentação transporta o público para o final do século XIX, apresentando personagens marcantes que vivem dramas, sonhos e a força da resistência em meio à opressão e à busca por justiça.
A trama central traz a história de Fabiano, o noivo, (Emanuel Sales) sobrinho de Conselheiro e ex-funcionário de um coronel. Ao receber uma carta do tio, que o convoca para Canudos em busca de uma vida melhor, ele abandona o emprego, recusando-se a compactuar com a opressão do patrão. Ao lado dele está Maria, a noiva (Deivyane Lima), uma mulher forte e determinada que perdeu a família para a miséria durante a seca. Em Canudos, ela enxerga a oportunidade de recomeçar e formar uma família. “Juntos, Maria e Fabiano representam os marginalizados que encontram esperança no movimento e um pedaço de terra para chamar de seu”, conta Gláucia Lourenço, presidente do Instituto Santo Antônio de Arte, Cultura e Educação Social, (Instituto Santo Antônio), acrescentando que diferente dos casamentos tradicionais, o de Maria e Fabiano é assistido e abençoado por Antônio Conselheiro.
O enredo conta ainda que na comunidade de Canudos, onde fé e a união do povo eram os pilares, não havia a presença de padres ou juízes de paz para oficializar matrimônios. Assim, sob o olhar e a sabedoria de Conselheiro, o amor dos noivos foi celebrado, simbolizando a pureza de um povo que encontra suas próprias formas de viver e amar, guiado pela crença popular e pela solidariedade mútua. “A narrativa é enriquecida por outras figuras icônicas que dão vida à utopia canudense, posso até citar entre esses Noé, o marcador (Mikael Costa), é um negro ex-escravizado, retratado como um sertanejo simples, corajoso e leal, que enfrenta as adversidades. Sua figura simboliza a resistência do povo nordestino, a sabedoria ancestral, o mensageiro de Conselheiro e o guia rumo à Canaã Dourada”, retrata o projeto.
Nessa história a Rainha (Yorahnne Costa) é a personificação do que o povo buscava ao chegar a Canudos: terra fértil, a “terra roxa” onde tudo floresce. Ela representa o renascimento e o sopro de esperança que alimentava os sonhos dos refugiados. “O espetáculo dialoga diretamente com os eventos reais da época, abordando a crueldade do coronelismo, a sociedade igualitária de Canudos, onde não havia fome e todos trabalhavam juntos e o legado de Antônio Conselheiro, cuja luta inspira reflexões sobre justiça e desigualdade até hoje”, destaca Júnior Alves, integrante da diretoria e um dos fundadores do Instituto Santo Antônio.
Riqueza de detalhes
A riqueza de detalhes além dos figurinos, está no cenário que recria o arraial de Canudos no coração do sertão baiano com suas casas de taipa, a igreja fortificada, e a paisagem árida do sertão, pontuada pela presença dos bambuzais que margeavam o rio, elementos que valorizam a rica cultura nordestina e a particularidade do local. Vale ressaltar que esses bambuzais eram popularmente conhecidos como “canudos” devido aos seus caules ocos e alongados, e foi a partir dessa característica natural que o arraial recebeu seu nome.
O figurino pelo projeto evoca a essência da terra fértil e a riqueza de Canudos, entrelaçando cores vibrantes e formas que celebram a alegria dos festejos juninos. Cada detalhe traz o colorido característico da natureza e dos arraiais nordestinos.
O projeto também tem como destaque a música e as coreografia, a trilha sonora mescla ritmos juninos com temas épicos, enquanto as coreografias trazem passos tradicionais e estilizados, retratando desde a vida comunitária até os protestos históricos e atuais.
O destaque também para a presença do personagem Mungango: um toque de humor e autenticidade que celebra a resiliência e a alegria do povo nordestino, mesmo diante das adversidades. Como sempre a Junina Santo Antônio deixa uma mensagem social que transmite valores como coletividade, resistência e a luta por direitos, que relembra e ecoa a utopia de Canudos como um “sopro de fé, resiliência, resistência e esperança”. “Canudos: Um Sopro de Resistência!” não é apenas uma quadrilha junina, mas uma emocionante homenagem à coragem do povo nordestino. Com performances impactantes e um enredo que mistura história e arte popular, graças a Deus e obrigado ao todos os nossos brincantes, 37 pessoas que diretamente integram a representatividade da nossa quadrilha, assim como toda diretoria, parceiros e apoiadores, temos levado ao público à nossa emoção, história e recebido os aplausos, celebrando a cultura sertaneja e o espírito inabalável que nunca se cala”, pontuou a presidente.
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