Consciência política

19/09/2020

Estamos nos aproximando de mais um pleito municipal; agora, mais do que nunca, os ânimos de “consciência política” invadem até mesmo a alma do indivíduo que menos ousaria se atrever e falar sobre política. Ocorre, prezado leitor, que praticamente todo o debate político atual está permeado de amenidades, de trivialidades; o que sustenta o senso comum não é outra coisa que não algo que se assemelhe à torcida pura e simples – como os amantes de futebol e seus respectivos clubes do coração.

A consciência política – a verdadeira, não o simulacro da mesma – infelizmente não nos sobreveio mediante o didatismo escolar fundamental. A Educação Básica do Brasil não foi capaz de formar cidadãos verdadeiramente críticos quanto à política. Não me recordo (porque não houve, muito provavelmente) de um mínimo fervor quanto a matérias que abordassem a política da vez no decênio de 1990 enquanto eu era uma criança estudando no meu antigo e saudoso colégio.

Tive de aprender por conta própria; por interesse atávico, íntimo. Entre livros empoeirados encontrados e outros comprados, aprendi um pouco sobre o estado de coisas da política nacional daquela época. A minha consciência política, ali, fora construída por pura vontade de aprender sobre como funcionava o mundo burocrático ao qual eu estava inserido, onde eu também fazia parte.

Lamentavelmente, nem todos compartilham do mesmo interesse quando criança (muitos, nem mesmo enquanto adulto). Como disse anteriormente, não há um afinco educacional no sentido de formar seres verdadeiramente pensantes politicamente. Não se aprende muito sem um esforço descomunal pela sede do conhecimento. Acreditar que compete ao Ensino Fundamental, Médio ou até mesmo ao Ensino Superior a incumbência de lhe tornar um ser pensante criticamente político, é uma ingenuidade. Se o amigo leitor, ao chegar em sua casa, não pôr em prática o hábito de ler (por uma hora que seja) sobre política (não excluindo também as fundamentais literaturas e filosofias, claro), dificilmente (aliás, impossível) construirá os acervos basilares necessários para compreender melhor o mundo e o aparelhamento que o rodeia. Estará, repetidas vezes, dialogando sobre as mesmas futilidades, ou achando que, na vida, tudo lhe parece simples, prático e de fácil resolução. Em outras palavras: estaremos diante de um ignorante convicto.

Temo, em cada eleição, pelo futuro. Lamento pelo modus como o processo político se engendra. As histórias se repetem porque as atitudes populistas permanecem sempre as mesmas. A ausência de consciência política (não confundamos com a doutrinação da consciência de classe, pelo amor de Deus!), como o leitor bem sabe, é onde reside o cerne dessa problemática danosa. Por isso, meu caro leitor, leia… mais que depressa, leia Recorra aos salvadores livros! Compreenda como a Esquerda e a Direita se comportaram no processo histórico no mundo! Leia sobre marxismo, comunismo, socialismo, capitalismo, liberalismo, conservadorismo… e tantos mais “ismos” políticos quanto puderes! Um ser pensante não se constrói da noite para o dia. Mas permanecer estagnado é estar com o carro parado na oficina: nada pode lhe oferecer de utilitário.

Que nessa eleição não votemos pelo viés do coração torcedor; pelo favor; pelo cabresto; pelo acaso; pela maioria; pela tendência; pela ignorância… Conscientizemo-nos!

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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