Junina Santo Antônio conta a história de ‘Canudos: um sopro de resistência’

14/06/2025

Depois de um longo período de ensaios e preparativos, chegou a melhor época do ano, junho, mês mais festivo, cheio de tradições, cultura e religiosidade, principalmente para os grupos juninos.

Em Iguatu, a quadrilha Junina Santo Antônio este ano iniciou a temporada trazendo para os palcos o espetáculo: “Canudos: Um Sopro de Resistência!”, que retrata a saga de um lugar que se tornou símbolo de luta, resistência e esperança no sertão nordestino, enredo inspirado na história real da comunidade de Canudos, no sertão baiano, liderada por Antônio Conselheiro. A apresentação transporta o público para o final do século XIX, apresentando personagens marcantes que vivem dramas, sonhos e a força da resistência em meio à opressão e à busca por justiça.

A trama central traz a história de Fabiano, o noivo, (Emanuel Sales) sobrinho de Conselheiro e ex-funcionário de um coronel. Ao receber uma carta do tio, que o convoca para Canudos em busca de uma vida melhor, ele abandona o emprego, recusando-se a compactuar com a opressão do patrão. Ao lado dele está Maria, a noiva (Deivyane Lima), uma mulher forte e determinada que perdeu a família para a miséria durante a seca. Em Canudos, ela enxerga a oportunidade de recomeçar e formar uma família. “Juntos, Maria e Fabiano representam os marginalizados que encontram esperança no movimento e um pedaço de terra para chamar de seu”, conta Gláucia Lourenço, presidente do Instituto Santo Antônio de Arte, Cultura e Educação Social, (Instituto Santo Antônio), acrescentando que diferente dos casamentos tradicionais, o de Maria e Fabiano é assistido e abençoado por Antônio Conselheiro.

O enredo conta ainda que na comunidade de Canudos, onde fé e a união do povo eram os pilares, não havia a presença de padres ou juízes de paz para oficializar matrimônios. Assim, sob o olhar e a sabedoria de Conselheiro, o amor dos noivos foi celebrado, simbolizando a pureza de um povo que encontra suas próprias formas de viver e amar, guiado pela crença popular e pela solidariedade mútua. “A narrativa é enriquecida por outras figuras icônicas que dão vida à utopia canudense, posso até citar entre esses Noé, o marcador (Mikael Costa), é um negro ex-escravizado, retratado como um sertanejo simples, corajoso e leal, que enfrenta as adversidades. Sua figura simboliza a resistência do povo nordestino, a sabedoria ancestral, o mensageiro de Conselheiro e o guia rumo à Canaã Dourada”, retrata o projeto.

Nessa história a Rainha (Yorahnne Costa) é a personificação do que o povo buscava ao chegar a Canudos: terra fértil, a “terra roxa” onde tudo floresce. Ela representa o renascimento e o sopro de esperança que alimentava os sonhos dos refugiados. “O espetáculo dialoga diretamente com os eventos reais da época, abordando a crueldade do coronelismo, a sociedade igualitária de Canudos, onde não havia fome e todos trabalhavam juntos e o legado de Antônio Conselheiro, cuja luta inspira reflexões sobre justiça e desigualdade até hoje”, destaca Júnior Alves, integrante da diretoria e um dos fundadores do Instituto Santo Antônio.

Riqueza de detalhes

A riqueza de detalhes além dos figurinos, está no cenário que recria o arraial de Canudos no coração do sertão baiano com suas casas de taipa, a igreja fortificada, e a paisagem árida do sertão, pontuada pela presença dos bambuzais que margeavam o rio, elementos que valorizam a rica cultura nordestina e a particularidade do local. Vale ressaltar que esses bambuzais eram popularmente conhecidos como “canudos” devido aos seus caules ocos e alongados, e foi a partir dessa característica natural que o arraial recebeu seu nome.

O figurino pelo projeto evoca a essência da terra fértil e a riqueza de Canudos, entrelaçando cores vibrantes e formas que celebram a alegria dos festejos juninos. Cada detalhe traz o colorido característico da natureza e dos arraiais nordestinos.

O projeto também tem como destaque a música e as coreografia, a trilha sonora mescla ritmos juninos com temas épicos, enquanto as coreografias trazem passos tradicionais e estilizados, retratando desde a vida comunitária até os protestos históricos e atuais.

O destaque também para a presença do personagem Mungango: um toque de humor e autenticidade que celebra a resiliência e a alegria do povo nordestino, mesmo diante das adversidades. Como sempre a Junina Santo Antônio deixa uma mensagem social que transmite valores como coletividade, resistência e a luta por direitos, que relembra e ecoa a utopia de Canudos como um “sopro de fé, resiliência, resistência e esperança”. “Canudos: Um Sopro de Resistência!” não é apenas uma quadrilha junina, mas uma emocionante homenagem à coragem do povo nordestino. Com performances impactantes e um enredo que mistura história e arte popular, graças a Deus e obrigado ao todos os nossos brincantes, 37 pessoas que diretamente integram a representatividade da nossa quadrilha, assim como toda diretoria, parceiros e apoiadores, temos levado ao público à nossa emoção, história e recebido os aplausos, celebrando a cultura sertaneja e o espírito inabalável que nunca se cala”, pontuou a presidente.

MAIS Notícias
Projeto usa drones para otimizar uso da água na irrigação do milho
Projeto usa drones para otimizar uso da água na irrigação do milho

Tecnologia aplicada ao campo pode garantir economia de recursos e prever produtividade nas lavouras do semiárido cearense   Na cidade de Iguatu, no interior do Ceará, um projeto inovador desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal do Ceará (IFCE) tem mostrado...

Câmara aprova convênio de R$ 350 mil para o “Festeja Iguatu”
Câmara aprova convênio de R$ 350 mil para o “Festeja Iguatu”

Secretário de Cultura destaca importância do evento para economia local; vereadores cobram transparência na aplicação dos recursos   Na sessão da última quinta-feira, 12, a Câmara Municipal de Iguatu aprovou por unanimidade o projeto de lei que autoriza convênio...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *