Em atendimento aos nossos leitores do Jornal A Praça, na coluna dessa semana e na próxima falaremos sobre os manifestos que estão ocorrendo em defesa da Lagoa da Bastiana, importante espaço ambiental e de diversidade ecológica do nosso município de Iguatu.
A ausência de uma educação e uma política ambiental no nosso município, mesmo com a existência da Lei Municipal nº 1.613, de 23 de dezembro de 2011 que dispõe sobre esse tema, tem sido certamente um dos causadores do abandono que por muitos anos as nossas lagoas, nosso grande patrimônio ecológico, encontram-se inseridas e agonizam nos dias atuais.
No ano de 2018 durante o meu curso de mestrado, tive a oportunidade em uma disciplina de desenvolver um trabalho na Lagoa da Bastiana, ambiente urbano que sempre se notabilizou pela presença de diversidade de fauna e flora. Naquele momento tive a oportunidade de percorrer as suas margens em grande parte de sua extensão, uma vez que aquela possui no seu potencial quase 50 hectares de abrangência quando em tempos invernosos. Na época se tratava de período de estiagem e pude comprovar o tamanho do dano ambiental que estava sendo desencadeado. A lagoa na realidade é a mistura de lixo orgânico, inorgânico, plantas e água poluídas. Naquele tempo encontrei garrafas plásticas e de vidro, roupas, papéis e, pasmem, até restos de móveis como colchão, sofás, entre outros.
Foi através desse estudo que descobri, e em seguida mapiei, a existência de um canal que tem início por trás do muro do hospital regional, onde já recebe esgotos do Bairro Esplanada, continuando a sua captação nos bairros Vila Centenária, Cohabs I, II e III, findando no Bairro Filadélfia onde após percorrer mais de 1.000 (mil) metros coletando esgotos de mais de quatro mil residências e comércios, deságua através de um bueiro direto no leito da lagoa levando esgoto, lixos, entre outros materiais que propiciam o dano grave ao ecossistema do espaço.
Realizar um processo de urbanização da lagoa não é apenas necessário mas extremamente urgente, pois é um mecanismo de proteção contra entulhos, lixos, entre outros objetos que diariamente são despejados no leito da lagoa. O problema reside ao meu ver na necessidade de se discutir com a sociedade de forma técnica, através de audiências públicas para que se pudesse construir as melhorias e edificações por meio do compartilhamento de informações, inserção de profissionais das áreas específicas, análises sociais e dentro de um desenvolvimento ambiental sustentável, evitando possíveis prejuízos que possam ser gerados para aquele espaço.
Nesse momento acalorado entre as partes envolvidas, não deverá existir espaço para questões políticas, com exceção da política meramente ambiental e de sustentabilidade, pois caminhar no rumo político ou acreditar que esse seria o viés não se resolverá a situação posta. Ao conversar com alguns integrantes do movimento pró-lagoa, enxerguei a vontade única de proteção ao espaço, de construir uma política pública voltada à preservação, além da reclamação sobre decisões tomadas sem a presença da comunidade e de uma ampla discussão em favor da lagoa, que possibilitasse a minimização dos problemas que o projeto atual venha causar.
Assim, acredito que é hora de o Ministério Público Estadual mediar o conflito presente, por entender que sem essa mediação certamente será difícil o entendimento, ou um acordo que tenha como ganhador principal além da própria lagoa, todos os envolvidos e que a partir dele se desenvolva outras ações, que possibilitem de mãos dadas a criação de mecanismos voltados para a proteção ambiental ampla em nosso município.
Nos dias atuais, se a lagoa pudesse se comunicar conosco certamente diria que o seu momento de vida não permite mais esperar pelas pessoas que não enxergam a gravidade do problema naquele espaço.
Até breve!
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