Poe, poeta louco.

21/09/2024

‘‘Como Poe, poeta louco americano/Eu pergunto ao passarinho/Assum preto, pássaro preto, Black bird o que se faz?/Raven, never, raven, never, never, never, never, never, raven/Assum preto, pássaro preto, black bird, me responde: Tudo já ficou atrás/Raven, never, never, never, never, never, never, raven/Black bird, assum preto, pássaro preto, me responde: O passado nunca mais[…]’’ Velha Roupa Colorida – Belchior

 

Edgar Allan Poe, nascido em 19 de janeiro de 1809 em Boston, Massachusetts, é amplamente reconhecido como um dos mestres do suspense, do mistério e da literatura gótica. Órfão muito cedo, Poe foi adotado pela família Allan, mas sua relação com o padrasto, John Allan, foi marcada por desentendimentos, especialmente em torno de questões financeiras e acadêmicas. Após abandonar a universidade e servir brevemente no Exército, Poe decidiu seguir carreira como escritor, enfrentando grandes dificuldades financeiras ao longo de sua vida.

A vida de Poe foi marcada por tragédias pessoais, pobreza e vícios, temas que frequentemente influenciaram suas obras. Sua esposa, Virginia Clemm, com quem ele se casou quando ela tinha apenas 13 anos, sofreu de tuberculose, doença que também lhe tiraria a vida em 1847. A morte de Virginia, juntamente com as dificuldades econômicas e a própria luta de Poe contra o alcoolismo e a depressão, mergulharam o escritor em uma espiral de melancolia e solidão. Essas experiências sombrias se refletiram em suas criações literárias, nas quais a morte, a loucura e o desespero são temas centrais.

Vejamos, agora, suas principais obras:

“O Corvo” (1845)

Este poema é, sem dúvida, sua obra mais famosa. “O Corvo” é um monólogo dramático que descreve o luto de um homem pela perda de sua amada Lenore. O corvo, símbolo da morte e da desesperança, repete constantemente a palavra “Nunca mais”, levando o protagonista a um estado de crescente loucura. O poema tornou Poe famoso, mas não lhe trouxe estabilidade financeira.

“O Gato Preto” (1843)

Esta narrativa curta é um dos exemplos mais perturbadores do gênero de horror psicológico. A história, contada por um narrador não confiável, explora temas como a culpa, o alcoolismo e a violência doméstica. O protagonista, impulsionado pela loucura, acaba cometendo assassinatos e sendo atormentado pelo espírito de um gato que ele mesmo matou.

“O Coração Delator” (1843)

Outra obra-prima do horror psicológico, esta história curta detalha o relato de um homem que assassina um idoso inocente, aparentemente sem motivo, exceto por sua obsessão com o “olho” da vítima. Depois do crime, ele é assombrado pelo som imaginário do batimento cardíaco do homem morto, que o leva à confissão. A história é um estudo profundo sobre a culpa e a paranoia.

“A Queda da Casa de Usher” (1839)

Nesta obra, Poe explora o tema do declínio psicológico e físico através de uma mansão misteriosa e sua família igualmente perturbada. A atmosfera sombria e claustrofóbica juntamente com o fim trágico e sobrenatural solidificam essa história como uma das mais notáveis no gênero gótico.

“Os Assassinatos na Rua Morgue” (1841)

Reconhecida como uma das primeiras histórias de detetive, esta obra introduz o personagem C. Auguste Dupin, um precursor dos detetives racionais e intelectuais que influenciariam figuras como Sherlock Holmes. Poe demonstra sua habilidade de criar mistérios intrincados e resolvê-los por meio de dedução lógica.

Como é sabido, Edgar Allan Poe foi um pioneiro em diversos gêneros literários, incluindo o conto de horror, a ficção científica e a literatura policial. Sua habilidade em criar atmosferas sombrias, explorar a mente humana e seu profundo senso de ritmo e som em sua poesia deixaram um impacto indelével na literatura mundial. Embora tenha morrido em circunstâncias misteriosas em 1849, seu legado continua a influenciar escritores, cineastas e leitores até os dias de hoje. Poe permanece uma figura icônica da literatura gótica e do horror psicológico, cujas obras transcendem gerações e continuam a ser amplamente estudadas e admiradas.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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