Tecnologia aplicada ao campo pode garantir economia de recursos e prever produtividade nas lavouras do semiárido cearense
Na cidade de Iguatu, no interior do Ceará, um projeto inovador desenvolvido por pesquisadores do Instituto Federal do Ceará (IFCE) tem mostrado como a tecnologia pode transformar a agricultura em regiões afetadas pela escassez de água. Utilizando drones equipados com sensores multiespectrais, a equipe do campus local do IFCE conseguiu monitorar, com precisão, o estado hídrico das plantas de milho e prever sua produtividade. O estudo foi publicado na revista científica Engenharia Agrícola.
A pesquisa é fruto do Trabalho de Conclusão de Curso do engenheiro agrícola Mateus Lima Silva, egresso do IFCE e atualmente mestrando na renomada Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP). Sob a orientação do professor Alexandre Reuber e com o apoio do CNPq, o projeto também contou com a colaboração de estudantes e professores da instituição. O trabalho foi conduzido durante a estação seca, entre outubro e dezembro, em uma área de cultivo controlada em Iguatu, e envolveu uma metodologia prática e de fácil aplicação no campo.
O trabalho desenvolvido em Iguatu se mostra como estratégico no eixo da educação e da pesquisa científica, prometendo ser um vetor no avanço da agricultura no semiárido brasileiro, oferecendo soluções práticas para garantir segurança hídrica e alimentar em uma das regiões mais desafiadoras do país.
O diferencial da pesquisa foi o uso de drones para captar imagens aéreas que indicam o nível de estresse hídrico das plantas. Com a ajuda do DJI Phantom 4 e de câmeras multiespectrais, os voos eram realizados semanalmente e produziam imagens com dados invisíveis a olho nu, como o infravermelho próximo. A análise dessas imagens permitiu aplicar 10 índices de vegetação diferentes, com destaque para o NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada), que se mostrou eficaz ao classificar os níveis de estresse hídrico em quatro categorias distintas.
Alternativa sustentável
Segundo Mateus, a grande contribuição do estudo é a possibilidade de realizar um diagnóstico em tempo real e sem danificar as plantas. “Esses achados são muito importantes, porque mostram que é possível fazer uma análise não destrutiva do estado hídrico das plantas, o que pode facilitar bastante o manejo de áreas irrigadas e também ajudar na estimativa de produtividade em áreas de sequeiro”, explica. A fase vegetativa do milho (E2) foi identificada como a mais sensível à falta d’água, tornando-se o momento ideal para a detecção precoce do estresse hídrico.
Além de orientar a irrigação de forma estratégica – indicando exatamente quando e quanto irrigar -, os dados gerados pelos drones permitiram aos pesquisadores desenvolver tabelas que relacionam os índices de vegetação com a produtividade da lavoura. Isso significa que os agricultores podem estimar o rendimento da colheita ainda durante o ciclo da cultura, otimizando recursos e decisões de manejo.
O estudo testou cinco níveis de irrigação (de 20% a 100% da necessidade da planta) em quatro estágios de crescimento do milho. Com análises estatísticas robustas, como ANOVA, regressão e correlação de Pearson, os resultados mostraram uma forte relação entre os dados obtidos pelos drones e o rendimento real das lavouras. Outro índice avaliado, o GLI, também apresentou resultados promissores, embora com menor precisão que o NDVI.
Para o professor Alexandre Reuber, a tecnologia representa uma alternativa sustentável e viável para enfrentar os desafios das mudanças climáticas. “A expectativa é que, com a continuidade das pesquisas, o uso de drones e índices de vegetação se consolide como uma estratégia confiável e sustentável para o monitoramento da água nas lavouras”, afirma.
*Com informações de Amanda Alboino – IFCE
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