“Acredito que devemos olhar para todas as potencialidades das pessoas com Autismo e sabermos que jamais podemos enquadrá-los e nem rotulá-los”.

09/04/2022

O mês de abril foi escolhido pela Organização das Nações Unidas, em Dezembro de 2007, como mês dedicado ao ‘Autismo’, uma forma de chamar a atenção do Mundo para o público diagnosticado com o ‘Transtorno do Espectro Autista-TEA. Para entender os avanços da sociedade em relação ao transtorno, e o que é ‘Autismo’, o A Praça traz entrevista com a psicóloga, Yasmin Maia, psicóloga da APAE de Iguatu, especialista em Saúde Mental pela URCA-Cariri

A Praça – Como surgiu a ideia de o mês de abril está associado à luta da sociedade do reconhecimento do Autismo, não como uma doença, mas como espectro de comportamento?

Yasmin – O dia mundial do Autismo é 2 de abril, foi criado pela Organização das Nações Unidas em 18 de dezembro de 2007 para a conscientização acerca das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A data surgiu a fim de ampliar o conhecimento sobre o tema e reduzir o estigma em torno do transtorno.

A Praça – Quais são as principais características de uma pessoa com Autismo?

Yasmin – O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano, como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação.

A Praça – Quais sinais a criança pode demonstrar logo cedo, que traz o espectro do Autismo?

Yasmin – Os sinais podem ser observados precocemente em algumas crianças e estão relacionados a alguns processos das fases do desenvolvimento infantil. Primeiramente gostaria de salientar que cada criança tem sua subjetividade, se expressa e se mostra da sua forma espontânea. No entanto, sabemos que algumas delas quando estão em contato com o mundo, nas relações interpessoais em especial, podem não estabelecer contato visual, não interagem com outras crianças, podem vir a apresentar ecolalias, estereotipias, o brincar disfuncional, dificuldades na fala, resistência a mudanças.

A Praça – Qual a contribuição que a sociedade vem dando, no sentido de cooperar para que as pessoas com Autismo vivam com qualidade?

Yasmin – Diante de todas as lutas das famílias das pessoas com TEA, dos profissionais de saúde e educação e da sociedade em geral, é possível perceber uma caminhada forte em meio a todos os estigmas que ainda existem. Mas sabemos também que já existem grandes conquistas como a Lei Berenice Piana que foi sancionada em 2012 (Lei 12.764), também conhecida como A legislação, que leva o nome da mãe de um jovem autista, determinou que pessoas com TEA são consideradas, para todos os efeitos legais, pessoas com deficiência. E em 2015 foi sancionada a Lei 13.146, também conhecida como Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência ou Estatuto da Pessoa com Deficiência. Desta vez, a legislação assegurava não somente os direitos de quem tem o diagnóstico de TEA, mas também de PCDs no geral.

A Praça – O preconceito ainda atrapalha muito? Existe preconceito dentro de casa?

Yasmin – Sabemos que diante de um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), é comum existir um processo difícil vivenciado pela família. Pois nesse primeiro momento existe uma série de questionamentos de quais as possíveis formas de intervenções que deverão ser buscadas e realizadas. Sabendo também que algumas famílias não compreendem e em alguns casos não buscam as intervenções precoces. O preconceito ainda existe, em alguns casos pode acontecer dentro do contexto familiar, havendo um distanciamento e a incompreensão de alguns membros da família.

A Praça – Você trabalha com esse público? Como é a relação com eles?

Yasmin – Atualmente estou atuando também como psicóloga da APAE de Iguatu. Na instituição trabalhamos com crianças com Autismo da estimulação precoce até os 4 anos de idade e a partir dessa faixa etária até a fase adulta. Existe uma equipe multidisciplinar (psicóloga, psicopedagoga, fisioterapeuta e fonoaudióloga) atuando no desenvolvimento dessas crianças e jovens. A construção de vínculo é fundamental, pois é a partir disso que podemos construir processos terapêuticos e possibilitar acolhimento e qualidade de vida aos nossos pacientes. Diante disso, as relações que se constroem são embasadas na ética, no acolhimento e respeito às diferenças.

A Praça – O que podemos esperar do mundo pós-pandemia em relação ao Autismo?

Yasmin – Sabemos que durante os 2 últimos anos de pandemia tivemos momentos muito difíceis e para as pessoas com Autismo e suas famílias foram ainda mais desafiadores, pois diante de todos os riscos que a pandemia estava apresentando ainda existiam limitações no processo de escolarização e para algumas crianças o acesso restrito as terapias. Desse modo, nesse momento de pós-pandemia sabemos que os desafios continuam. Trago algumas reflexões de como podemos possibilitar a inclusão de pessoas com Autismo dentro das escolas, nas famílias, nos contextos sociais e em todos os campos, pois sabemos que a pensar a inclusão é pensar num mundo com qualidade de vida para todas as nossas crianças, jovens e adultos com TEA.

A Praça – Ver as pessoas com autismo sendo inseridas na vida socioeconômica, tendo uma vida normal, ainda é um sonho distante?

Yasmin – Enquanto profissional de Psicologia acredito que devemos olhar para todas as potencialidades das pessoas com Autismo e sabermos que jamais podemos enquadrá-los e nem rotulá-los. Desse modo, se partir do desejo dessas pessoas serem inseridas nesses campos, devemos pensar em possibilidades de inclusão e de acolhimento. Sinto que não é um sonho distante, mas uma realidade que deve ser pensada, fortalecida e trabalhada dentro dos contextos que envolvem todas elas.

Perfil

Yasmin Gomes Maia Pereira é graduada em Psicologia pela Unileão em 2018, pós-graduada em Saúde Mental pela Universidade Regional do Cariri (URCA); possui formação em Gestalt-terapia Clínica (Clínica Diálogos), em Avaliação Psicológica (Ethos), e está concluindo a Pós-formação em Gestalt-terapia Clínica e formação de Supervisoras (Diálogos).  Ela atua como psicóloga da APAE de Iguatu, também como psicóloga clínica há 4 anos na cidade de Iguatu. Atendimentos com adolescentes e adultos.

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