Entrevista: Jader Mendonça – Médico Proctologista

09/03/2024

“O câncer de intestino tem um fator genético, que é inerente da pessoa, que já nasce com ele, e existem os fatores ambientais. Dentre os fatores ambientais, existe o tabagismo, o etilismo (álcool), a obesidade, o sedentarismo, e existem também os fatores relacionados aos hábitos alimentares”.

No mês Março Azul, mês de prevenção contra o câncer de intestino, o médico Dr. Jader Mendonça, especialista em coloproctologia e cirurgia geral, é o entrevistado do A Praça, lançando luz sobre a doença que avança assustadoramente, no Brasil e no mundo em número de casos. No Ceará fica atrás somente dos cânceres de pulmão, estômago e cólon do útero. Prevenção, diagnóstico cedo e tratamento são os motes  principais abordados pelo médico

 

A Praça – O mês identificado como Março Azul é alusivo ao combate ao câncer de intestino?

Dr. Jader – Este mês de março é alusivo ao Março Azul, mais uma campanha das sociedades médicas, em que trata do câncer de intestino. Na verdade, é o câncer da parte final do intestino, do cólon e do reto, que a gente chama de intestino grosso. Neste mês de março, nós estamos fazendo campanhas, os especialistas participando em rádio e TV, inclusive com o envolvimento de muitos artistas nas redes sociais e televisão, divulgando essa campanha que é um mês de combate ao câncer de intestino (cólon retal), principalmente para mostrar a importância da prevenção e o diagnóstico precoce dessa doença.

 

A Praça – Por que os casos de câncer de intestino têm crescido tanto?

Dr. Jader – O câncer de intestino é um dos que mais cresce no mundo, consequentemente no Brasil e particularmente no Nordeste. Em vários países ele já é o 2º câncer que mais acomete a população. No Brasil, dados gerais dos órgãos de controle, é o 2º câncer que mais acomete homens, ficando atrás apenas do câncer de próstata, e o 2º câncer que mais acomete as mulheres, ficando atrás somente do câncer de mama. No geral, ele está em 3º lugar em número de casos. Claro, sem os cânceres de pele que são bem menos agressivos. E a gente tem visto um crescimento no número de casos, em pessoas mais jovens que tem chamado a atenção. Especialmente aqui no Nordeste, o câncer de intestino que era, 6º, 7º lugar, existem estados em que ele já está em 3º e 4º. Aqui no Ceará ele ainda fica atrás do câncer de pulmão, câncer de estômago e o câncer do cólon do útero, que estão associados a uma má condução socioeconômica, o uso do cigarro, mas também há uma falha da rede de saúde, e a gente vê que esse câncer, mesmo com as campanhas de prevenção que a gente tem feito ano a ano, ele tem crescido cada vez mais e a tendência é que aqui no Ceará ele chegue a ser o 3º, o 2º mais comum. O problema do câncer de intestino é a fase na qual ele é diagnosticado. Quando diagnosticado de uma forma mais precoce, e o ideal é que ele seja diagnosticado na fase pré-câncer, que são os pólipos, e nesses casos, na maioria das vezes a gente resolve até com a colonoscopia. Nesta cirurgia a gente retira os pólipos e evitar que eles virem câncer. Mesmo nas fases mais precoce a gente consegue fazer cirurgia, procedimentos menores, do que quando o tumor está mais tardio. O problema maior é quando você precisa fazer grandes cirurgias, quando o paciente está com o tumor mais avançado, ou quando é uma lesão de reto, especialmente reto baixo, você precisa de cirurgias maiores, e essas cirurgias acompanhadas muitas vezes de rádio, quimioterapia, principalmente nos tumores mais avançados, o que leva o paciente ter muitas morbidades.

 

A Praça – Do que os pacientes têm medo, ao iniciar o tratamento?

Dr. Jader – O que faz as pessoas terem mais medo do câncer de intestino é a famosa colostomia, que é a ‘bolsinha’ e isso depende muito do estágio do câncer. Muitas vezes, a gente que trabalha no serviço público, e também atende uma boa quantidade de pacientes, os pacientes vêm, especialmente os mais humildes, mas isso aí não é só dos pacientes humildes, mesmo os pacientes que têm uma condição socioeconômica melhor, vão deixando isso um pouco de lado, por causa do medo e da vergonha. Isso evolui para uma fase mais avançada do tumor, quando já tem metástase, ou quando você precisa fazer uma cirurgia mais agressiva. Ou então o paciente já obstruído, precisando fazer uma colostomia para poder operar. Por se tratar de uma região do corpo totalmente essencial para o bem-estar humano, a região intestinal, e quando você não tem uma boa saúde intestinal, você não consegue viver bem, acaba que quando o paciente vai passar pelo tratamento, no câncer de intestino, especialmente aqueles que necessitam de uma cirurgia mais agressiva ou quimioterapia, acabam perdendo um pouco em qualidade de vida. O mais importante é iniciar o tratamento, fazer o combate, seja qual foi o estágio da lesão que aconteceu, para buscar a cura, ou pelo menos o alívio dos sintomas.

A Praça – O surgimento tem a ver com os hábitos alimentares da população?

Dr. Jader – Existem muitos estudos que buscam associar os hábitos alimentares aos cânceres, não só de intestino, mas vários outros tipos de câncer, têm a ver com os hábitos alimentares. O câncer de intestino tem um fator genético, que é inerente da pessoa, a pessoa já nasce com ele, e existem os fatores ambientais. Dentre os fatores ambientais, existe o tabagismo, o etilismo (álcool), a obesidade, o sedentarismo, e existem também os fatores relacionados aos hábitos alimentares. Existem vários estudos já mostrando que aquelas dietas de fast food com muita gordura, muita gordura animal, muita proteína animal, produtos industrializados, tudo isso faz com que aumente o risco de o paciente evoluir com pólipos e consequentemente você evoluir com o câncer de intestino.

 

A Praça – Como são identificados os sintomas da doença? Essas campanhas das sociedades médicas ajudam a incentivar as pessoas a procurar ajuda para diagnóstico?

Dr. Jader – Essas campanhas, como Março Azul, Outubro Rosa, o Novembro Azul, do câncer de próstata, são exatamente para diagnosticar cânceres que são assintomáticos ou que são pouco sintomáticos no início, e quando você vai ter sintoma já vai estar numa fase mais avançada, e o câncer de intestino é um deles. Nas fases iniciais o câncer de intestino, antes dele existem os pólipos, que normalmente são totalmente assintomáticos ou podem apresentar um pouco de sangramento, que seria um dos sinais de alerta. O que a gente busca é diagnosticar nessa fase, que a gente chama de fase de rastreamento de pré-câncer. Quando o câncer de intestino está bem inicial, ele também age como um pólipo e tem poucos sintomas, no máximo um pouco de sangramento. Principalmente quando é uma lesão mais próxima do reto, que sangra de forma mais frequente e o paciente consegue identificar no momento de evacuar. Quando o câncer de intestino vai dar aquele sintoma mais clássico, aquele sangramento mais recorrente, frequente, uma massa abdominal, anemia, dor abdominal, aquela dor que incomoda, alteração do hábito intestinal, aquele paciente que evacuava bem e começa a ter diarreia. Tem hora que o paciente está constipado, outra hora, dor abdominal, outra hora diarreia, num paciente que tinha hábitos normais, isso soa como sinais de alerta. Apesar de que esses sintomas também estão presentes na maioria das doenças que acometem o intestino e o canal anal, no entanto ressalto que nem todo sintoma deste tipo significa dizer que o paciente esteja com câncer. De acordo com a faixa etária do paciente, surgindo algo do tipo, é importante buscar o atendimento de um especialista para investigar e ter um diagnóstico diferencial entre um câncer e outras patologias como hemorroida, doença inflamatória intestinal e com uma série de outras doenças que existem.

 

A Praça – Como é feito o diagnóstico do câncer do cólon?

Dr. Jader – O câncer de cólon tem várias formas de diagnóstico, ou de suspeita. A forma mais comum e assertiva, mais sensível e mais específica, é através de exames endoscópicos, especificamente a colonoscopia. Um exame de endoscopia é feito com todo o preparo intestinal via oral, com a orientação do profissional em que o paciente usa o preparo para limpar os dejetos do intestino visando a deixar a área livre para que o procedimento seja feito, já que é um exame em que o profissional médico usa um equipamento com câmera para visualizar o interior do sistema intestinal. Este exame é importante, por ser preventivo, uma vez que ele dá o diagnóstico do câncer de intestino, identificando os pólipos, que são pequenas lesões pré-cancerígenas. Além deste existem outros exames como a ertossigmoidoscopia, um exame mais curto do que a colonoscopia, e pode identificar o câncer de intestino que está do lado esquerdo do intestino, no reto e na parte final do cólon. Tem o exame radiológico, enemapaco, com o qual a gente consegue fazer o diagnóstico, e a tomografia, feita em pacientes em que a gente não consegue fazer a colonoscopia, que em tese é o exame mais preciso para diagnóstico do câncer de intestino.

 

A Praça – Quais são as formas de tratamento do câncer de intestino?

Dr. Jader – O câncer de intestino é muito variado o seu tratamento. Quando o paciente diagnostica numa fase mais precoce, quando ainda está no início, o médico pode tratar usando o método da colonoscopia. Às vezes o câncer está num pólipo e quando o médico retira o pólipo está retirando o câncer. Depois desta fase quando ele já invade o intestino, normalmente a primeira opção é cirúrgica. Após isso vem a quimioterapia ou imunoterapia, que são os tratamentos coadjuvantes, mas que só são administrados em caso de a doença estar em fase mais crítica.

 

A Praça – O senhor pode explica um pouco sobre o tumor do reto?

Dr. Jader – O tumor do reto, como ele é muito próximo do canal anal, quando mais próximo do canal anal, as cirurgias são muito mutilantes. Alguns pacientes até passam a adotar a colostomia para o resto da vida. Quando o tumor é muito próximo, são feitas a quimioterapia e radioterapia, antes da cirurgia. Além desses procedimentos, ainda podem ocorrer outras cirurgias de pulmão e fígado, nos casos em que há metástase, porque o câncer de intestino é de evolução mais lenta e quando é preciso operar fígado ou pulmão com metástase é possível fazer a cirurgia e o paciente ter uma sobrevida boa. O tratamento de câncer de intestino é multidisciplinar. Então entra o trabalho da enfermeira, do oncologista clínico, da fisioterapeuta, o radioterapeuta, o cirurgião digestivo, então é muito importante que a gente faça um bom acompanhamento desse paciente e individualize cada caso.

 

A Praça – Como prevenir o câncer de intestino?

Dr. Jader – Existem duas formas de prevenção. Uma delas é evitar os fatores ambientais, como a obesidade, sedentarismo, o cigarro, o álcool e as dietas ricas em gordura animal. Para prevenir é importante a introdução dos alimentos ricos em fibra como as verduras, os legumes, as frutas e outros. Reduzir o consumo das carnes vermelhas e gordurosas é importante para a saúde, já que esses alimentos podem aumentar a pré-disposição para o câncer de intestino. A gente pede que os pacientes façam essa prevenção primária e que mudem seus hábitos de vida, porque, por exemplo, a obesidade por acometer o paciente das doenças crônicas como a hipertensão, o diabetes e até o infarto. Nunca é demais falar que ter hábitos saudáveis de vida é muito importante para prevenir. A segunda forma de prevenção é a secundária. O câncer de intestino surge de um pólipo que é uma pequena lesão pré-câncer. Esse pólipo demora muito tempo para virar câncer. Se o paciente faz preventivamente uma colonoscopia e retira esse pólipo que é encontrado, ele está fazendo a prevenção do câncer. Então, a campanha de prevenção do câncer de intestino no Março Azul é exatamente para orientar as pessoas sobre a prevenção. Que as pessoas percam o medo de realizar os exames, pois se a gente se previne contra a próstata, o câncer de mama e outros, agora é a vez de a gente se prevenir contra o câncer de intestino. E a prevenção a que me refiro é tratar a doença antes dela se espalhar, cuidar na fase inicial, evitando todos os transtornos e morbidades que falei anteriormente. Gostaria de ressaltar que a principal forma de rastreamento é a colonoscopia. A indicação desse rastreamento no paciente é a partir dos 45 anos. Se o paciente já tiver histórico de câncer na família, é fundamental que esse rastreamento seja aos 40, ou até mesmo antes, aos 30 anos. Quando mais cedo rastrear para diagnosticar, mais chances de tratar e ter uma vida normal.

Perfil

Jader Mendonça, coloproctologista e cirurgião geral, médico formado pela Universidade Federal do Ceará – UFC com residência médica em cirurgia geral e coloproctologia, mestrado em cirurgia pela UFC. Atende em Iguatu no Hospital São Camilo. É preceptor da Residência Médica de Coloproctologia do Hospital Walter Cantídio UFC e cirurgião geral do IJF em Fortaleza. Professor e integrante do NDE da Faculdade de Medicina de Iguatu IDOMED

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