A trave no olho

18/07/2022

“E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.” Mateus 7:3-5

 

Não, atento leitor, conhecendo-me um pouco, saberá que não pretendo eufemizar qualquer má conduta da atual gestão do nosso país. Na verdade, acho estranho direitistas endeusarem ou fazerem vistas grossas às falhas de maus políticos só porque estes fazem parte da ala conservadora ou liberal. Da minha parte, não tenho por inocente quem quer que ande gerindo mal o nosso país, independentemente de qual bandeira defenda.

Muito pelo contrário. Não confio no homem, dada a sua deficiência e propensão para a corrupção. Observo mais a sua imperfectibilidade. Estamos no mundo real, não no utópico mundo em que todos dão as mãos e brincam com leões domesticados, como vemos em algumas revistas religiosas. Ou no mundo igualmente fantasioso da sociedade comunal, onde todos são ‘‘bons por natureza’’.

Mas estranha-me sobremaneira ao constatar, lamentavelmente, que os esquerdistas, de um modo geral, sobretudo os petistas, não parecem considerar a imparcialidade quanto aos seus políticos que praticaram ações que oneraram os cofres públicos. E não adianta relatar os inúmeros casos de corrupção da quadrilha liderada pelo idolatrado senhor Luiz Inácio. O banditismo, como sabemos, é motivo de orgulho para muitos. A inversão de valores é o mote da vez, ao que parece.

A família, os valores, a manutenção da ordem há muito já não são valorizados em nossa decrépita nação. No lugar destes, optaram pela deformidade do lar, pela libertinagem desenfreada, pelo caos físico e mental, pela desordem sincrética de coisa alguma com coisa qualquer.

E isso se expressa também na falta de consciência em relação a desconsiderar, por exemplo, os danos causados pelas falcatruas ocorridas na Petrobrás, durante a gestão petista, ignorando completamente tais malefícios refletidos hoje. A crise atual não se expressa apenas por conta disso, evidentemente, mas de uma série de acontecimentos, como a questão pandêmica, a guerra da Ucrânia e Rússia, o mercado internacional e sua flutuação de preço etc.

Ao invés de tais ponderações, essa ala opta por tão somente culpabilizar o chefe do Executivo por tudo. Ora, é mais simples e cômodo, afinal, a ânsia pela retomada do poder faz com que a esquerda ignore o seu passado nebuloso e traga os mesmos protagonistas com uma roupagem inaceitavelmente ilibada.

Não repara, propositalmente, na trave enfincada no próprio olho ‘‘esquerdo’’, mas focam, de modo torpe, no argueiro no olho ‘‘direito’’ do outro. Dois pesos e duas medidas, como sempre. Eis o verdadeiro lema da turma altamente ‘‘crítica e problematizadora’’: Se formos nós, não importa o que fizemos, trata-se apenas de manobras capciosas do inimigo. Ou seja, não fomos nós, de fato!’’.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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