Há uma lenda urbana que afirma que nunca, jamais, sob hipótese nenhuma, alguém conseguiu reunir todos os funcionários de uma mesma empresa numa confraternização. No caso dos profissionais da educação, eu afirmo que não é lenda e nem mito.
E, no caso de algumas dessas festas, os ausentes fazem-se mais presentes do que se imagina.
“Venho todos os anos para a confraternização. Pago cota, ajudo na arrumação, fico até o final e fulano nunca vem”.
Por outro lado, se alguém deixa de ser convidado já se pensa o pior. “Será demitido?” Ou então o não solicitado faz o drama: “Não fazem questão de minha presença! Não sou importante”. Ou ainda: “Não vão com a minha cara”.
Cria-se toda uma paranoia coletiva. Às vezes reina a sensação de que alguns – os que não foram, afinal, demitidos nos anos anteriores – são mais bem quistos que os demais e podem fazer o menoscabo social.
E os governantes, os prefeitos e vereadores nunca debatem o assunto. Creio que seja plausível criar uma confraternização para os que não se confraternizam.
Proponho esta proposição em minha redação final: Urge que as autoridades pensem nos sujeitos que não gostam de festas, de uns drinks com os colegas; que dispensam os salgadinhos, os doces e a tradicional troca de presentes ou amigo secreto. São a menor minoria do mundo, e ninguém pensa neles – exceto para lhes espinafrar.
Claro, haveria certas regras para esses misantropos. No lugar do amigo secreto, deveriam criar as “Verdades secretas”. Elucido: ao invés da habitual troca de presentes, existiria uma troca de insinuações, insultos e cada um falaria o que pensa do outro, do chefe, da empresa, dos demais colegas e, por extensão, da sociedade.
No lugar de danças e karaokês, homenagens e afins, poderiam fazer umas lutas de MMA – ao melhor estilo Clube da Luta. E os nomes poderiam ser trocados também. Em lugar do nome de batismo ou do apelido, poderiam usar às alcunhas: “Toma essa, esquisitão” etc.
Em lugar de vaquinhas, cada um poderia simplesmente não levar nada. Sim, senhor: sem música, salgadinhos e abraços. Só insultos e galhofas. E ao se cumprimentarem, poderiam dizer: “desprazer em te ver, mas que bom que você veio”.
Sugiro, enfim, que ao fim da festa faça-se uma peça. E que cada um finja ser o que não é no trabalho. Ao antipático, o papel de simpático; ao egocêntrico, um personagem do evangelho. E assim por diante. O nome da peça fica a critério. Mas acho “Escatologia” uma excelente escolha.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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