As ruas de Iguatu

27/02/2021

Por Emmanuel Montenegro

 

Em qual rua você mora? Por quais ruas e avenidas você passa para ir ao trabalho? Qual o endereço daquele restaurante ou daquela loja? Todos os dias percorremos diferentes caminhos do Iguatu e nos deparamos com nomes de pessoas nas placas localizando as vias: personalidades nacionais, religiosos, artistas, políticos, benfeitores do município ou da região. Podem ser também datas históricas, topônimos indígenas e elementos da natureza (vegetal ou mineral).

A identificação das vias públicas por meio de placas de nomenclatura é instrumento de grande importância em uma cidade, uma vez que organiza o traçado urbano, permitindo a rápida localização do endereço que se procura. Ruas sem denominação oficial podem deixar os moradores sem acesso a serviços, como o recebimento de correspondências, encomendas e cobranças.

A responsabilidade sobre essa identificação compete à Câmara Municipal – com a sanção do prefeito -, que segue alguns critérios na hora de oficializar o nome de logradouros públicos por meio de lei municipal. Pessoas, datas ou fatos históricos, acontecimentos cívicos de relevância municipal, estadual e nacional têm preferência, excluindo-se “nomes e eventos incompatíveis com o espírito de fraternidade universal e de unidade e objetivos nacionais”. Importante saber que os nomes de ruas só podem ser concedidos a pessoas já falecidas, atendendo a Lei Federal nº 6.454 de 24 de outubro de 1977, que proíbe “atribuir nome de pessoa viva ou que tenha se notabilizado pela defesa ou exploração de mão de obra escrava, em qualquer modalidade, a bem público, de qualquer natureza, pertencente à União ou às pessoas jurídicas da administração indireta”.

A população pode propor ao Legislativo o nome de uma pessoa a ser homenageada com a denominação de uma via pública, considerando o mérito dos serviços prestados por aquela pessoa a uma determinada comunidade e com o intuito de manter na memória o nome de alguém que teve importância para a cidade. A proposição da homenagem póstuma é apresentada por um vereador, tornando-se um projeto de lei, depois de passar por votação das comissões e câmaras temáticas. Ao fim desse processo, é sancionada a Lei pelo Executivo, que determina a instalação das placas sinalizando as ruas.

Iguatu tem em torno de 1.500 vias, distribuídas em cerca de 47 bairros, segundo dados da Câmara. Muitos dos nomes são de figuras ilustres que ajudaram a escrever a história do município, mas há também nomes de personagens históricos do país, como Floriano Peixoto, José de Alencar e Santos Dumont.

A rua Monsenhor Coelho, no Centro, presta homenagem a José Coelho de Figueiredo Rocha, nascido em 9 de maio de 1881, no sítio Caldas, em Barbalha, Ceará. Ordenado sacerdote no seminário de Fortaleza, foi nomeado vigário cooperador de Iguatu, assumindo o cargo de vigário geral em 24 de fevereiro de 1906. Durante 37 anos, prestou assistência a Iguatu e região, promovendo festas religiosas de grande porte, como as de Senhora Santana e São Sebastião. Responsável pela introdução da festa de São Francisco de Assis, em Quixelô, e pela fundação da igreja Matriz Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Acopiara. Foi o orador oficial na solenidade de inauguração da ponte ferroviária sobre o rio Jaguaribe, em 1916. Liderou o mutirão que construiu a capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Prado, em 1924. Na década de 1930, inaugurou capela no hospital Santo Antônio dos Pobres, onde faleceu em 12 de novembro de 1941. Seus restos mortais foram depositados em urna na igreja Matriz de Senhora Santana. Na praça ao lado há um busto do Monsenhor Coelho, homenagem da família Coelho e do povo de Iguatu.

Em 8 de dezembro do ano passado foi celebrado os 151 anos de nascimento de Pedro Gomes de Araújo, que dá nome a uma rua do bairro Tabuleiro. Conhecido como o “coronel Pedroca da Mata Fresca”, nasceu no então distrito de Bom Jesus do Quixelô. Agropecuarista, comerciante e industrial bem-sucedido e prestigiado na sociedade, foi proprietário da maior faixa de terras produtivas da cidade, sendo pioneiro na utilização de maquinário agrícola. Em sua fazenda Mata Fresca, manteve em funcionamento o 3° maior engenho do Ceará, onde fabricava a aguardente de mesmo nome e rapadura. Produziu ainda algodão arbóreo, cereais e legumes, além de criar gado e outros animais. Dono de armazém em Quixelô, abriu filial em Iguatu em 1918. Casou-se com Bernadete de Araújo e com ela teve 9 filhos, entre os quais o médico e prefeito de Iguatu (1951-1955) Agenor Gomes de Araújo. Fez parte da primeira diretoria da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Iguatu, fundada em 23 de junho de 1923. Faleceu neste município em 19 de agosto de 1954.

Mais alguns logradouros que homenageiam personagens da história de Iguatu

Rua Otaviano Benevides (bairros Alto do Jucá e Santo Antônio): filho natural de Mombaça (CE), foi proprietário de usina de beneficiamento de algodão e construiu, na década de 1920, palacete considerado um dos mais belos do interior. Eleito prefeito em 1926, não chegou a tomar posse, pois era devedor do erário estadual. Venceu a eleição em novo pleito, administrando a cidade no período de 1934 a 1935.

Rua Meton de Alencar Maia (Cohabs): Nascido em Oeiras (PI), chegou a Iguatu em 1922. Foi comerciante por mais de 50 anos, pertencendo a diversas entidades de classe e recreativas. Rei Momo dos carnavais iguatuenses, no período de 1947 a 1990, faleceu em Fortaleza, sendo sepultado em Iguatu.

Rua Leonardo Maia Lima Verde (Jardim Oásis): iguatuense, comerciante respeitado e bem-quisto, dono de mercearias entre as décadas de 1920 e 1940, faleceu em 31 de maio de 1950. Sua morte mereceu crônica elogiosa de autoria do professor João Coelho, divulgada através do serviço de alto-falante “Voz do Progresso de Iguatu”, repercutindo nas páginas dos jornais “O Povo” e “Unitário”, de Fortaleza.

Foi com esse interesse sobre as histórias por trás das placas de ruas que iniciei, em 2014, na rede social Instagram, o projeto de memória Ruas Biográficas (@ruasbiograficas), que traz microbiografias das pessoas que denominam as vias da capital cearense. Está no ar uma campanha de financiamento coletivo para a publicação do projeto em um livro físico (catarse.me/ruasbiograficas). Espero poder levar em breve o Ruas Biográficas para os municípios do interior, sobretudo Iguatu, onde nasci e cresci e estou sempre a visitar familiares e amigos. Eu acredito que o conhecimento sobre o passado da nossa cidade se faz de grande valia para a compreensão do nosso lugar de pertencimento e para a valorização e reforço da nossa identidade cultural e social.

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