Vanessa Lamônaco, Delegada de Defesa da Mulher e do Menor, de Iguatu é a entrevistada desta edição do A Praça. Ela faz um relato sobre a data de amanhã, domingo, 10 de outubro, em que o Brasil celebra a luta do combate à violência contra a mulher
A Praça – Amanhã, domingo, 10, será comemorado o Dia Nacional de Luta de Combate à Violência contra a Mulher. Temos muito para comemorar nesta data?
Vanessa – Com certeza. Foi em 1980 que a data de 10 de outubro tornou-se o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. Datas como essa fazem a diferença na vida das mulheres e reforçam o compromisso na prevenção, enfrentamento e erradicação de todas as formas de violência. A divulgação possui grande importância na conscientização a respeito dos direitos das mulheres em virtude do impacto que promove na coletividade. Quando se institui uma data como marco, para reafirmação de direitos e divulgação de luta histórica, instituições públicas e privadas aderem ao movimento e contribuem de forma muito relevante para a propagação das conquistas já alcançadas e para viabilizar novos avanços.
A Praça – Mesmo com os avanços da Lei Maria da Penha, a mulher ainda sofre violência velada e muitas sofrem caladas. A senhora acredita que isso ainda pode mudar?
Vanessa – Sim. A violência doméstica muitas vezes ocorre às escondidas, na intimidade da família, no âmbito privado, longe dos olhos da sociedade. Porém acredito que essa situação pode ser revertida com educação, conscientização e empoderamento das mulheres, para que denunciem seus agressores.
A Praça – A senhora acredita que a dependência econômica ainda seja um fator alimentador da violência contra a mulher?
Vanessa – A dependência econômica, sem dúvidas, é um incentivador para que as mulheres acabem por não denunciar seus agressores. Muitas vezes por não ter outras formas de sustentar a casa e os filhos, acabam por aceitar a situação de violência por parte de seus maridos/companheiros. Por isso são importantes iniciativas com o fito de inserir a mulher no mercado de trabalho, a fim de que ela também se torne provedora da família e assim consiga sair do ciclo da violência.
A Praça – Iguatu não dispõe de nenhum ‘abrigo’ para receber mulheres vítimas da violência doméstica. As vítimas, após fazerem os procedimentos na delegacia, acabam tendo que voltar para o mesmo ambiente dos agressores. Isso não contribui para mais violência ainda contra ela?
Vanessa – A cidade de Iguatu, até o momento não possui abrigamento para as mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Em breve, nossa cidade contará com a Casa da Mulher Cearense, que é um complexo com diversas instituições voltadas ao melhor atendimento das vítimas de violência, entre eles um abrigo. Atualmente, caso a mulher esteja em situação de risco, e não possua a casa de familiares para se refugiar, é possível que seja recolhida em abrigamento na cidade de Fortaleza.
A Praça – A DDM já tem um perfil social da mulher que está na mira da violência doméstica?
Vanessa – Não existe um perfil para a vítima da violência doméstica, estando presente em todas as classes sociais.
A Praça – A senhora concorda que a mulher está mais encorajada, na hora de denunciar seus agressores?
Vanessa – Sim. Sem dúvida. A violência doméstica é um tema que já foi e vem sendo muito discutido. E essa conscientização das mulheres, que muitas vezes não conseguiram sequer perceber que estavam em situação de violência, junto com o ingresso no mercado de trabalho, em que ela passou a ser também provedora do lar, levou ao empoderamento das vítimas, para sair dessa situação de violência e denunciar seus agressores.
A Praça – Em nível da DDM de Iguatu, comparando com outras regiões, como a senhora analisa os números da violência contra a mulher? Estamos num patamar aceitável?
Vanessa – Não existe nenhum patamar de violência que seja aceitável. Algumas regiões, como o Cariri por exemplo, ainda possuem o patriarcado muito forte, e por isso o número de registro de ocorrências envolvendo violência doméstica e familiar é muito elevado. Na cidade de Iguatu, embora menos que no Cariri, ainda registramos ocorrências de violência doméstica diariamente.
A Praça – Na sua opinião, quais são fatores mais determinantes da violência contra a mulher?
Vanessa – Existem vários fatores que podem levar a um relacionamento abusivo e violento, dentre eles a dependência psicológica e econômica. Devemos sempre ter em mente, também, que a violência gera violência. Quem vivencia a violência – muitas vezes antes de nascer e durante toda a infância – só pode achar natural o uso da força física. Quando o agressor foi vítima de abuso ou de violência na infância, tem medo, e para se sentir seguro, precisa ter o controle da situação, e a forma que encontra é desprezar, insultar e agredir. Por isso a violência doméstica e familiar contra a mulher é um tema tão relevante, e deve ser abordado sempre, pois a ideia de família, como uma entidade inviolável, não sujeita a interferência do Estado e da justiça, sempre fez que a violência doméstica se tornasse invisível, e precisamos falar sobre isso, pois ela existe, é real, e as vítimas precisam da nossa ajuda.
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