Os impactos na cidade sem saneamento básico

07/11/2020

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, de cada R$ 1,00 investido em saneamento básico haverá uma economia de R$ 4,00 em saúde. Mitos e verdades à parte, o fato é que uma cidade saneada oferece muito mais qualidade de vida para seus moradores.

Saneamento básico está no protocolo da ONU – Organização das Nações Unidas, para o século XXI, e entre as metas dos governos dos países da América Latina e Central em suas diferentes esferas, incluindo o Brasil. Das nações mundiais que ainda estão devendo este bem público, o Brasil é um dos países de maior dívida.

O país ainda guarda as estatísticas mais vexatórias e preocupantes, em relação ao saneamento das cidades. Recentemente o Congresso fechou questão e aprovou legislação que prevê a execução de projetos de saneamento básico, mas o prazo de conclusão é longo e revela um longo caminho.

Cidades importantes do ponto de vista geográfico, guardadas as peculiaridades de cada uma em suas respectivas regiões, ainda sofrem horrores com a ausência do saneamento. Isso evidencia a verdade ‘nua’ e ‘crua’ da falta de planejamento urbano nos processos de expansão das áreas habitáveis, e, indiretamente, o crescimento desordenado, sem uma mínima preocupação com as consequências futuras: morar por morar, habitar por habitar. Sem estrutura viável, água potável, transporte, energia elétrica e saneamento.

Fora de pauta

O caro leitor deve estar se perguntando aonde queremos chegar. Se pensou em sua cidade, Iguatu, acertou. Esta, como tantas outras, ainda está no grupo de aglomerados urbanos cujas populações ainda sofrem as consequências da falta de políticas públicas de saneamento básico.

Em plena campanha eleitoral, quando os candidatos ao próximo mandato, para Prefeitura e Câmara, independente das paixões partidárias mais afloradas, disputam a preferência do eleitorado, talvez fosse coerente, de todos os lados, debater este tema, antigo e ao mesmo tempo atual: o projeto de saneamento da cidade. Mas o assunto ainda está fora de pauta.

Pesadelo

É visível o processo de crescimento urbano de Iguatu. O surgimento de novos bairros e loteamentos. Mas nunca é demais perguntar: os novos loteamentos que estão surgindo, não seria correto a inclusão do saneamento? Percorrendo essas áreas, Premier, Cajueiro I e II, Terrabela e outros empreendimentos imobiliários, é fácil perceber que seus moradores convivem com os mesmos problemas das demais áreas da cidade e compartilham os mesmos dramas: água estagnada na rua, lama, dejetos, bactérias, germes e mau cheiro, nas tradicionais canaletas do pé das calçadas.

Na Rua Deocleciano Bezerra, centro da cidade, dois moradores compartilham o mesmo desejo de ver a rua saneada. Josivan Bezerra Dantas, 26, (pescador) e José Cristóvão Filho, 53, (empresário). Zé Filho está no mesmo endereço há 25 anos, Josivan acabou de chegar parar morar. “É um transtorno vivido ao longo de décadas, numa época dessa, de campanha, de eleição, a gente não vê os candidatos sentarem para debater, um dos problemas mais graves de nossa cidade”, lembrou o empresário.

Esta artéria foi escolhida propositalmente pela reportagem, porque é uma das mais impactadas do centro nesta seara do saneamento. É a primeira rua que alagada quando o Jaguaribe transborda. Pela manhã é cena corriqueira ver os moradores de vassoura na mão desobstruindo as canaletas. Comum também sentir, pelo olfato, até mesmo o menos aguçado, o odor desagradável que exala.

As águas usadas das pias das casas, que se juntam aos dejetos, sobra de comida, que se juntam às águas dos banheiros e vão correr pelas canaletas e produzindo a massa fétida que já fazem parte do cotidiano dos iguatuenses.

Este pesadelo é vivido não somente por quem mora ou trabalha na Rua Deocleciano Bezerra. Perto dali estão a 13 de maio, Pedro Gomes de Araújo, Santos Dumont, Agenor Araújo, Monsenhor Coelho, Cel. Mendonça, Cel. Virgílio Correia, José de Alencar, Júlio Cavalcante, Adeodato Matos.

Sofrimento inconveniente

Na Rua 13 de maio, uma das artérias mais influentes do quadrilátero residencial e comercial da cidade, os esgotos correm a céu aberto. A moradora Maria Helena Amorim, 69, mora à altura do número 416 há 28 anos e sempre conviveu com os inconvenientes da ausência do saneamento básico. Segundo ela, quando chove, dependendo da intensidade da chuva, exatamente por não ter para onde escoar, a água invade a casa dela. Entra pelo cano e vai represar no banheiro. Geralmente essa água é suja e leva o mau odor para dentro da casa da moradora. “É meu desejo ver minha cidade um dia livre disso. É sofrimento, é inconveniente, a gente nunca vai se acostumar, parece que não acaba”, desabafou.

Iguatu, cidade de grande relevância do ponto de vista geográfico, comercial e político, prestes a completar 170 anos, ainda carrega a mácula de não oferecer o serviço de uma cidade saneada, com mais qualidade de vida para sua gente. Essa deficiência das políticas públicas impacta também no prejuízo para a cidade, porque deixa de atrair investimentos.

Para executar o projeto do saneamento, o município terá que buscar recursos externos. Há uma década o valor estipulado era de R$ 60 milhões. Nos dias atuais, com cálculos aproximados, este orçamento não poderá estar abaixo dos R$ 80 milhões. Verba relativamente irrelevante para a importância deste empreendimento para a cidade e sua população.

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