Pascal em três atos

17/02/2024

Blaise Pascal (1623-1662) foi um renomado filósofo e matemático francês estudado em Filosofia na escola do Racionalismo. O seu tonus filosófico, o que o difere de Descartes e de Spinoza, por exemplo, é o acentuado pessimismo e a tendência a visualizar o homem e a existência pelo viés trágico. De sua obra principal, Les Pensées (1669), traduzimos para o leitor três pensamentos. Aduzimos comentários nossos àquele que foi um dos influenciadores do nosso genial Machado de Assis. Apreciemos.

 

  1. C’est être superstitieux, de mettre son esperance dans les formalités; mais c’est être superbe, de ne vouloir s’y soummettre. É ser supersticioso colocar sua esperança em formalidades. Mas é ser soberbo não se submeter a elas.

O sábio deve ater-se a um seguro modus in rebus. Um olhar indulgente e nunca sectário para com o homem e a existência. Pascal, mesmo pagando tributo a Descartes, não entroniza tanto a ação da res cogitans sobre a res extensa. Veja o leitor o final do antológico conto “A Cartomante” de Machado de Assis.

 

  1. Les hommes sont si nécessairement fous, que ce serait être fou par un autre tour de folie, de n’être pas fous. Os homens são tão necessariamente loucos que será tido como loucura, por algum entendimento da loucura, não ser louco.

Demens, insanus, amens são termos que designam, em Latim, o louco. Pascal, com certo ceticismo e sarcasmo, critica a hipocrisia do Estado de Civilização. “O Rei está nu!”. É a crise, a cegueira que há tempos atinge a Arte e a Cultura da detestável Modernidade. Heidegger já advertira para o risco de cairmos na Vana Loquentia, o falatório ideológico inútil. São os nossos férreos dias!

 

  • Dignior plagis quam osculis non timeo quia amo. Sou mais digno pelas chagas do que pelos beijos; não temo, porque amo.

Les Pensées, a obra máxima de Pascal, foi escrita em francês. Todavia, curiosamente, o fragmento acima, o 551, está em Latim. Seu conteúdo é estoico-cristão. Vemos o sustine do Estoicismo apoiado pelas ideais cristãs de humildade e amor incondicional

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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