VESTIGIA

03/05/2024

Sócrates, conforme os escritos de Platão, foi o principal veiculador da teoria da Recordatio animae. A teoria da Recordação. Possivelmente as raízes mais pretéritas dessa profunda teoria encontram-se na esotérica religião egípcia, a qual foi assimilada por Pitágoras e por outros filósofos pré-socráticos. Os gregos também a conheceram pelo termo metempsicose.

Segundo tal crença, a alma vivia em plenitude, em meio às Formas (Platão), antes de cair na prisão do corpo. Então, eventualmente, em momentos de iluminação, pode tocar o Inteligível e recordar-se nebulosamente do Lost Paradise. Assim sendo, conhecer é reconhecer. Saber é encontrar-se na divina rememoração.

Particularmente, parece-me extremamente verdadeira tal teoria. Falo de uma Veritas advinda não da Ratio, mas dos caminhos da intuição e da fé. A contemplação da arte pura pode, verbi gratia, proporcionar-nos tais insights da divina lembrança.

De nenhum modo, devo dizer de minha certeza, somos Tabulae rasae, como queriam os Empiristas. Há ideias inatas, há verdades absconsas e insuspeitas; apenas evocadas per nubila

Forte presença em minha formação têm tais ideias. Deveras inspiram-me. Eis uma ode sob tal influxo. A estrofe é horaciana, de molde sáfico-alcaico, combinando decassílabos com hexassílabos. Ei-la:

 

                                   VESTIGIA

       

           “Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes”

                                        Mário de Sá-Carneiro

Em sonho já estive a folhear

             Estes livros que amei;

Como alguém que partisse e que ao voltar

               Nunca fosse! Sonhei!?

A Verdade é uma face conhecida;

               Apenas não lembrada.

Uma flor numa página esquecida…

               Alma revisitada.

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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