Não que se deva procurar sempre o intelecto de alguém como uma espécie de elo extraviado, um eldorado há muito perdido. Mas realmente devo concordar que nossa contemporaneidade não traz o mínimo de atrativos que estimule um ser vivente lúcido a sair de sua casa rumo à caça.
Quase sempre falta papo; as conversas não ultrapassam as amenidades – que nem fedem nem cheiram. As temáticas não alcançam nada que não fujam do senso comum, das polarizações, dos debates futebolísticos, dos últimos mexericos; enfim, das trivialidades recalcitrantes.
E, pior: quanto mais bonita é a pessoa, maiores são as chances de ela ser uma estúpida criatura envolta em uma belíssima silhueta – que é tudo o que ela pode oferecer. Há também as que pensam que pensam (sem dúvida a pior delas, pois são chaníssimas pseudointelectuais).
Diante dessa danação, o que resta é embriagar-se como se não houvesse amanhã e abraçar a criatura cabeça –oca da vez. É inútil e enfadonho buscar pérolas em meio a tantos porcos. Se queres conversar, se queres verdadeira companhia, a encontrará nos bons livros (não todos, só nos monstros da literatura!). É um erro a não se cometer procurar valor em uma massa ignóbil que não reconhece as benesses dos mestres rejeitados por gerações.
Veja, caro leitor, para comprovação do que vos escrevo, o caso que relato: Catarina veio ao meu encontro em uma noite de sexta-feira de um ano qualquer… coisa de cinco anos… sei lá… Pois bem. Sentamo-nos em um barzinho mequetrefe e nos dispusemos a conversar.
Catarina, que fazia charme como se fosse uma top-model – mas parecia mais com o que de fato era: beleza comum, que beirava à feiura -, irritou-se por eu não estar prestando atenção sobre qualquer coisa que saia da sua boca relativo a uma novela que ela assistira com a sua avó e irmão mais novo… Que diacho de assunto escroto para um encontro, meu caro leitor! Que me importa? Não assisto a novelas ou filmes, pra começar.
Por que não poderíamos ter pulado essa parte e irmos direto à cópula furtiva? Mas não! A futilidade tinha de se fazer presente e estragar as possibilidades de uma noite prazerosa. Difícil coisa é encontrar gente interessante – Nelson tinha razão sobre os idiotas.
Esse exemplo se repetiu com outras, com maior ou menor intensidade de babaquice, inúmeras vezes mais. Poucas me surpreenderam no quesito agradabilidade. Sei que, para muitas, sou igualmente desinteressante, é verdade; e provavelmente estarão certas quanto a isso. Mas de uma coisa eu sei, e é fato: não deixaram de gostar de mim pela estupidez de ser um cabeça-oca. Jamais me deixei emburrecer pela vulgaridade e culto que as redes sociais oferecem, ou pela falta de interesse pelo conhecimento.
Fujo das convenções sociais, das reuniões, dos grupinhos, dos encontros… ‘‘Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar’’, já dizia o já citado Nelson Rodrigues. Se te apetecer, fuja também das unidades infectadas pelo todo social.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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