A Padroeira

28/07/2021

Neste dia 26 de julho é comemorado o Dia de Senhora Sant’Ana, a mãe de Maria, avó de Jesus e padroeira do nosso município; conhecida ainda como Santana ou Santa Ana, nome derivado do hebraico Hannah (graça).

Nossa Senhora Santana é a padroeira dos tecelões, ourives, das rendeiras, costureiras, dos professores, avós e casais que desejam ter filhos. É também a santa protetora das mulheres casadas, sobretudo as futuras mães, assistindo-as durante o parto, e levando fertilidade às mulheres estéreis.

Filha de Maria e do sacerdote Nathan, de Belém, e casada com Joaquim (São Joaquim), um rico pastor de ovelhas descendente do rei Davi, a própria Ana sofreu com o desejo de ser mãe e não conseguir gerar uma criança, sendo o casal hostilizado pelos habitantes de Jerusalém, cidade próxima de onde morava, ao lado da piscina de Betesda (atual local da basílica de Santana). Embora Joaquim gozasse de grande prestígio na região, por ser considerado um homem justo e bondoso que doava parte de seus rendimentos aos mais humildes, entre os judeus a infertilidade era vista como sinal de maldição.

A história da avó de Jesus não está presente nas Sagradas Escrituras. Relatos de sua vida foram publicados nos chamados evangelhos apócrifos, como o Protoevangelho de São Tiago, que narra o exílio de Joaquim em uma propriedade sua na montanha, durante 40 dias e 40 noites, tendo ele suplicado pela ajuda de Deus, entre orações e jejuns. Ana sofria devido à esterilidade e à falta do marido, entregando-se às orações e pedindo a Deus por um milagre. Foi quando lhe apareceu um anjo, anunciando: “Ana, Ana, o Senhor escutou a tua oração, e tu conceberás e darás à luz, e falar-se-á da tua prole em todo o mundo”.

O mesmo anjo teria aparecido a Joaquim, dizendo-lhe para retornar para casa e que Deus havia escutado suas preces. Após alguns meses, Ana, já em idade avançada, deu à luz, por volta do ano 20 a.C. A criança recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa senhora, soberana, traduzido para o latim como Maria.

Santa Ana e São Joaquim, tidos como exemplo de educação na fé e a base da família, são cultuados desde o começo do cristianismo. A devoção a eles já era enraizada entre os fiéis do Oriente no século VI. No Ocidente o culto a Santana teve início em torno de 900-1000. Em 1584, o Papa Gregório XIII oficializou a data da festa litúrgica de Sant’Ana em 26 de julho, e, em 1879, o Papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja. Na França, a adoração a Santana ganhou impulso após suas aparições em Auray, em 1623. Na década de 1960, o Papa Paulo VI juntou a comemoração de Sant’Ana a de São Joaquim. Por essa razão, no dia 26 de julho comemora-se ainda o Dia dos Avós.

Devoção

A devoção a Sant’Ana chegou ao Brasil com os portugueses, tornando-se bastante comum no período colonial, com várias paróquias erigidas sob sua invocação e a importação da Europa de acervos de arte sacra confeccionada em homenagem à mãe de Maria.

Em Iguatu, a imagem, oriunda da Portugal, teria chegado em 1719, pelas mãos do padre João de Matos Serra, prefeito das missões do Ceará, e sido entregue aos frades carmelitas encarregados da missão catequética dos índios Quixelôs, habitando a margem esquerda da lagoa da Telha.

Com o afluxo de moradores, foi construída uma capela em honra à Senhora Santana, no mesmo local da atual Matriz, tudo diz, pelos índios Quixelôs, sob a orientação dos carmelitas. A edificação passou por sua primeira ampliação entre os anos de 1746 e 1765. Documentos históricos apontam que nos idos de 1814 o povoado era chamado de Santa Anna da Telha. A freguesia seria criada em 1831, separada de São Mateus (Jucás) sob a invocação de Senhora Sant’Ana. Nesse mesmo ano, a igreja passou por nova reforma, tendo aí a nomeação do primeiro pároco, padre Vicente José Pereira.

Em 1853, foi iniciado trabalho de ampliação do templo, durante paroquiato do padre Antonio Luiz Vasconcelos de Drumond, concluído em 1886, no paroquiato do monsenhor Francisco Rodrigues Monteiro. A torre da igreja foi construída pelo padre Raimundo Hermes Monteiro, que teve como seu coadjutor o padre José Coelho de Figueiredo Rocha, mais tarde Monsenhor Coelho, responsável pela colocação do relógio da torre da igreja, na década de 1930. A diocese de Iguatu seria criada em 1961, por bula papal “In Apostolicis Muneris” do papa João XXIII, e instalada no ano seguinte com a posse de seu primeiro bispo, dom José Mauro Ramalho de Alarcon e Santiago.

Hoje a imagem de Senhora Santana está guardada em nicho existente ao alto do lado esquerdo do altar-mor da Matriz, saindo da igreja apenas uma vez ao ano, durante a festa em honra à padroeira, que este ano marca o jubileu de 190 anos de fundação da paróquia.

 

Festa de Senhora Santana

Os festejos religiosos em louvor a Senhora Sant’Ana ocorrem em outros 10 municípios do Ceará: Tianguá, Independência, Jati, Santana do Cariri, Santana do Acaraú, Mocambo, Jaguaruana, Paramoti, Varjota e Eusébio. Em Iguatu, a programação teve início na última sexta-feira, 16, seguindo até segunda-feira, 26, feriado municipal.

Em decorrência da pandemia da Covid-19, o novenário dedicado à padroeira ocorre de maneira híbrida, pelas manhãs, às 6h, e todas as noites, a partir das 18h30min, com transmissões pela internet, por emissoras de rádio e tv locais e presencialmente na igreja, recebendo até 50% da capacidade. Na área externa, há um telão por onde os devotos poderão assistir às missas. A quermesse funciona na modalidade drive-thru para a retirada de combos com comidas. Não haverá a tradicional procissão, os fiéis poderão acompanhar a imagem de Senhora Santana em cortejo pelas ruas da cidade. Hoje será transmitida live do cantor e poeta cearense, Zé Vicente, comemorando 40 anos de carreira. Amanhã, domingo, o leilão ocorre de forma semipresencial. Quatro missas estão marcadas para o dia do encerramento, às 6h, 8h, 10h e 17h.

Até meus 11 anos de idade, morei com os meus avós na praça da Matriz, lembro-me de acompanhar a festa de perto, assistindo às novenas campais da calçada de casa e visitando a quermesse, onde provava do algodão doce, da pipoca, dos pratos regionais nas barracas e me divertindo no jogo da pescaria. Voltava para casa com sabonetes, pastas de dentes e brinquedos de prêmio. O ápice era o leilão de assados e bolos na rua lateral à igreja, hoje extensão da praça da Matriz. Emocionante assistir à chegada à igreja da santa no andor, após cortejo pelas ruas da cidade, sendo esperada pela multidão de fiéis. Um dos eventos religiosos mais expressivos do interior cearense, a festa de Senhora Sant’Ana é um bem cultural de grande valor para os iguatuenses, forte instrumento produtor de sociabilidades e de revisitação da fé e da memória da Terra da Telha. Salve, salve, senhora Santana.

MAIS Notícias
Iguatu Antigo: Cine Iguatu
Iguatu Antigo: Cine Iguatu

Por Emmanuel Montenegro Faz já algum tempo que não é possível sentar-se no escurinho do cinema em Iguatu, para a tristeza dos cinéfilos locais. A chegada do cinema, uma das formas mais apreciadas de entretenimento no mundo desde a sua invenção no final do século XIX,...

Eterno pastor
Eterno pastor

Iguatu Antigo Por Emmanuel Montenegro Há cerca de 15 meses partia para a eternidade, aos 94 anos, Dom José Mauro Ramalho de Alarcon e Santiago, Bispo Emérito diocesano, que faria aniversário no último dia 14. Dom Mauro chegou à Terra da Telha no início da década de...

Por uma Estação Cultural
Por uma Estação Cultural

Coluna Iguatu Antigo Emmanuel Montenegro A Estação Ferroviária de Iguatu é patrimônio histórico e cultural que guarda parte relevante da história do município. O prédio fica na avenida Doutor José Holanda Montenegro. “A ponta dos trilhos da E. F. de Baturité chegou a...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *