Cautela

09/04/2022

“Assim, um príncipe sábio pensará em como manter todos os seus cidadãos, e em todas as circunstâncias, dependentes do Estado e dele; e aí eles serão sempre confiáveis.”  – Nicolau Maquiavel

 

Se há algo que não entendo – e acho que jamais entenderei -, amigo leitor, é a paradoxal ‘‘liberdade’’ alicerçada no dispêndio do Estado. Ou seja, os críticos do capitalismo querem viver às custas do Estado e, entretanto, não querem que o mesmo intervenha em qualquer outra área da sua vida, que não seja a do auxílio paternal aqui subentendido.

Ocorre, meu caro, que o revolucionário em questão parece ignorar completamente que é o cidadão comum quem custeia qualquer assistencialismo exacerbado que onera os cofres públicos. E, claro, o cidadão comum contribui graças ao seu emprego. E o seu emprego, em sua maioria, advém da iniciativa privada – não pública. O que gera a riqueza de um país é o sistema capitalista, não a União.

Se todos fossemos funcionários de Estado, estaríamos em maus lençóis. Estaríamos em uma situação de dependência direta da gestão da vez. Em outras palavras, estaríamos sob o regimento de um sistema totalitário: sem liberdade, sem oportunidade de escolha, sem opção de considerar o que seria melhor para nós e para os nossos.

Acaso eles já esqueceram que todo povo dependente em demasia de um sistema, é aviltado pelo mesmo? Esqueceram dos fascistas, dos nazistas, dos comunistas? Na realidade, os esquerdistas (em sua maioria) carregam em sua lembrança apenas os dois primeiros regimes déspotas; o último, eles sequer reconhecem como genocida, totalitário e radicalmente prejudicial a qualquer ser que respira.

Assim sendo, amigo, é preciso ter cautela quando se ignora o gerador da riqueza (capitalismo), em benefício de um Estado máximo, interventivo, assaz presente. É bem provável que o preço a se pagar seja alto demais pelos aparentes benefícios que ele possa vir a ofertar.

Se eu não confio no Estado enquanto gestor de um sistema posto político complexo e duvidoso, que dirá para atender às minhas necessidades, que são ainda mais complexas e mutáveis a cada dia? Não há liberdade onde há dependência!

A ‘‘autossuficiência’’ pressupõe não uma total independência constitucional para com o poder constituído, seus deveres e direitos, mas sim quando consideramos e percebemos que somos nós mesmos que devemos ser responsáveis pelo nosso destino. E é mediante o trabalho, que tal destino (ou chame de caminho… tanto faz) é traçado, galgado alicerçado na consciência de que somos nós os geradores de riqueza, não o utópico idealista que, com suas vestes vermelhas, espera que o governo lhe assista em todas as suas necessidades.

Que compita ao governo toda sorte de atribuições, mas nenhuma obrigação por parte do indivíduo, ao que parece[?]. Então, meu caro, seria prudente, presumo, considerarmos, como disse, quem verdadeiramente gera a riqueza do nosso país, que seja, o ‘‘malvado’’ e criticado capitalismo, tão odiado pelo socialista de iPhone, pelos globais que brincam de serem pobres, pelos partidos de esquerda, que igualmente dele (do sistema capitalista), assim como a lúcida direita, se beneficiam, embora os canhotas o critique como objeto de manobra para convencer massas de incautos doutrinados etc. Que o Estado seja retraído. Isso sim é salutar! Deixemos o liberalismo em paz!

Portanto, sugiro cautela ao reivindicar um Estado máximo… Cautela…

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

 

MAIS Notícias
O Conservadorismo de Michael Oakeshott
O Conservadorismo de Michael Oakeshott

‘‘Assim, ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente...

Supressão da liberdade de expressão
Supressão da liberdade de expressão

  ‘‘Se nós não acreditamos em liberdade de expressão para pessoas que detestamos, nós não acreditamos em liberdade de expressão.’’ - Noam Chomsky   Há pouco tempo (no início do mês abril) falei, aqui, neste importante periódico, sobre a espiral do silêncio,...

Conhecendo a boa música, o rock! (parte I)
Conhecendo a boa música, o rock! (parte I)

O ano era 1992 (eu acho), quando, ao ouvir uma fita K7 (de artistas diversos) que minha mãe escutava enquanto lavava roupas, me deparei com uma canção de um sujeito que eu gostei bastante. Aos dez anos, não sabia o que era estilo musical, portanto, sertanejo, pagode,...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *