Em tempos de aflição

18/11/2023

As cordas da morte me envolveram,
as angústias do Sheol vieram sobre mim;
aflição e tristeza me dominaram.

Então clamei pelo nome do Senhor:

Livra-me, Senhor! O Senhor é misericordioso e justo;

o nosso Deus é compassivo. O Senhor protege os simples;

quando eu já estava sem forças, ele me salvou.

Retorne ao seu descanso, ó minha alma,

porque o Senhor tem sido bom para você!

Salmos 116:3-7

 

Em tempos aflição, nos encontramos derivando, sozinhos, num mar de incômodos sentimentos. A esmo, vamos para lugar algum. Alguns se agarram ao que restou da embarcação: pedaços de madeiras podres, vigas enferrujadas indo igualmente em direção nenhuma que importa.

Nesses momentos, amigo leitor, não parece haver salvação para o tripulante da vida em meio a essa tempestade…. Sim, trata-se de uma tempestade em plena desproteção do mar aberto da indiferença e do desconhecido. O preço a se pagar por ignorá-la é permanecer nela. Fingir que problemas não existem, podem até surtir um bom efeito em um curto espaço de tempo, no início. Mas depois é preciso fazer algo. É preciso nadar em busca de terra firme, se é que me entende.

Mas como sair dessa situação, sendo que não vejo qualquer horizonte? Só o que vejo e sinto é o mar de problemas e o gosto amargo no qual o sal se tornou? Há saída, mesmo quando não a vemos? Bem, amigo leitor, se FÉ é a certeza do que não se vê, uma convicção interna que vai além das evidências físicas, devemos também supor que a solução esteja, também, como a fé, para além do nosso campo de visão, que se encontra, nesse momento, prejudicado pela salinidade marítima dos problemas e a sua colossal dimensão amedrontadora.

O que quero dizer é que se faz necessário que não confiemos assim tanto na eficácia do fracasso. Por mais intransponíveis que aparentem certas ondas, marolas, há algo maior. Ironicamente, mesmo que venha encontrar-se no análogo mar que usei para exemplificar, tenha ‘‘os pés no chão’’. Essa dualidade aponta para que, sim, reconheçamos os nossos problemas, mas que tenhamos a racionalidade de controlarmos as nossas emoções negativas ante o referido problema.

Tenha fé em você, ainda que sejas um pessimista como eu. Tenha fé em Deus, ainda que sejas um alguém sem religião e sem uma exemplar espiritualidade, feito eu. Não se engane, o Senhor não está na sua dependência para que Ele o auxilie apenas se os pré-requisitos partirem de você. Não subestime o Criador. Somos demasiadamente pequenos e humanos para que compreendamos a grandeza de quem nos criou.

Em tempos de aflição, amigo leitor, é preciso tomar coragem e fôlego, se agarrar às ‘‘muletas’’ que lhe ofereçam um porto seguro, sejam elas metafísicas ou não. Deus, filhos, família em geral, amigos… Cada um tem os seus entes de valor, agarre-se a eles para sair da tormenta. Procure, também, descansar a sua alma carregada – nunca raciocinamos bem quando estamos com a mente em névoas; as coisas se confundem, silenciosamente, numa facilidade absurda.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

MAIS Notícias
Devaneios de um ébrio
Devaneios de um ébrio

‘‘O álcool tira as ilusões. Depois de alguns golos de conhaque já não penso em ti.’’ - Marguerite Yourcenar Devaneio I ‘‘Meu coração é um balde despejado’’, frase contida no impecável poema ‘‘Tabacaria’’, do Álvaro de Campos (heterônimo utilizado por Fernando...

Quando Deus ‘‘’resolve’ ouvir’’
Quando Deus ‘‘’resolve’ ouvir’’

‘‘Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo. Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença.’ Efésios 1:3-4...

O caso do Assassino dos Pães – parte 2
O caso do Assassino dos Pães – parte 2

Após o depoimento da testemunha, e com a chegada do investigador Ronald Silveira – enviado especial, recomendado pelo presidente -, a polícia passou a investigar o caso com maior afinco. O Serviço de Inteligência da capital também se fez presente na cidade. Após...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *