FÉDON

03/09/2022

“Bem mais bela era a margem que eu deixei.”

Eugênio de Castro

 

Platão – magnus et divinus Plato – ensinou-nos que são sombras as realidades à nossa volta; que os sentidos enganam, a carne mente e ilude; que olhar necessariamente não é Ver. As Ideias, as Formas Perfeitas, oriundas do Lost Paradise, mostram-se a nós como vislumbres, sweetness and light, no dizer do poeta Matthew Arnold.

Então somos peregrinos… Por quanto tempo? Nossa pobre alma – pauper et parva anima – caminha através dos corpos, prisioneira, folha varrida pelos séculos…

Eis um soneto decassílabo feito sob essa inspiração. Ad lectorem:

 

                                    FÉDON

                 “E, meditando, eu torno-me distante

                        Das suas aparências mentirosas.”

                                         Teixeira de Pascoais

Não te lembras? São cegos os sentidos.

Estou cansado de tantos caminhos…

Tantos corpos e sítios percorridos…

Continuamos tristes e sozinhos.

 

A Alma perdeu-se! São cristais partidos!

Mau vento que varreu todos os ninhos…

No espelho somos tantos, divididos;

Frágil taça portando tantos vinhos.

 

Nossas Vestes rasgaram-se na Estrada;

Onde o pouso final para a Jornada?

O descanso do olhar no fim da história?

 

Quebradas tantas liras… e a Harmonia?

Que Deus a tocará? Sombra ou Poesia?

Não te lembras? A Alma é uma Memória!!!

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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