‘‘Frescura’’ existencial

07/05/2022

Li, no livro do youtuber Danilo Nogy, o ‘‘Como sobrevivi aos anos 90’’, algo sobre a referida década não ter sido pior ou melhor do que a atual: apenas diferente. Discordo totalmente dessa concepção do autor.

O nostálgico decênio foi, sem sombra de dúvida, o último que proporcionou ao homem as vicissitudes que em nada se comparam às vexaminosas posições comportamentais da geração atual.

Eram épocas de Biotônico alcoólico, de propagandas de cerveja com belas musas em shorts curtíssimos, que tiravam o fôlego dos homenzinhos em formação. Hoje, com a chatíssima patrulha do politicamente correto, os homenzinhos contemporâneos ficam em polvorosos com uma simples cantada – parte natural do campo da conquista homem e mulher. ‘‘Gourmetizaram’’ (expressão fresca da vez, perdendo no quesito ridículo apenas para a outra americanizada: ‘‘top’’) tudo, até mesmo o sarro – natural em todas as épocas – virou bullying.

Pessoas frescas (não no sentido sexual da palavra) recorrem a terapias por não se suportarem, e, nisso, culpam esse ‘‘mundo de pessoas cruéis e insensíveis’’ – logo o mundo de hoje, vejam só! Deram, idiotas como só eles, poder às galhofas; deram ouvidos a toda sorte de pilherias banais.

A década de 20 do século XXI é, por essência, a era dos ressentidos da qual o filósofo L. F. Pondé bem retratou no seu excelente ‘‘A era do ressentimento. Uma agenda para o contemporâneo’’. Pessoas chatas que veem preconceito e depressão nos mais inusitados lugares, situações e pessoas. Usar do humor negro, então? Nem pensar! É crime dos mais graves! Essa gente desmaiaria se estivessem, com essas risíveis sensibilidades exorbitantes, vivendo na década de 1990, sem dúvida!

Agora o ‘‘cara escroto’’ virou a ‘‘pessoa tóxica’’. Sim, tiveram de ‘‘gourmetizar’’ as nomenclaturas de acusação, também. Viadagem existencial (termo que tomei emprestado do pastor Caio Fábio) é a melhor definição para as atitudes desses birrentos que não tem coragem de encarar o mundo como ele é e, por isso, querem controlar o que dizer, quem dizer, quando dizer e por quê dizer. Choramingam em demasia porque não respeitam o direito do outro ser diferente dessa geração de babacas. Se se ofende com algo, o problema, muita das vezes, não é do suposto agressor, mas do ”agredido”, que não passa de um bundão criado em uma caixinha de algodão!

Felizmente, ainda que sejamos poucos os que mantiveram a sanidade e a hombridade, não nos curvamos ante essa gente que não passa de esboço mal acabado do que já foi uma geração de verdade. Um brinde (não ‘’gourmetizado’’) aos verdadeiros remanescentes da década de 1990!

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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