Imbecilidade sistêmica

01/04/2023

“É urgente sobrevivermos ao ridículo do mundo contemporâneo. E para sobreviver a ele devemos desprezá-lo de alguma forma, como dizia o mestre Carpeaux. A verdadeira sabedoria passa, em algum momento, pelo desprezo do mundo a sua volta. Uma agenda para o contemporâneo é um ato de coragem”.

A era do Ressentimento – Luiz Felipe Pondé.

 

Nas conversas que tenho com os meus poucos – mas valiosos – amigos, que são homens acima dos trinta anos e, portanto, vivenciaram a última geração antes da detestável era do mimimi, percebo que as constatações que faço têm fundamento, pois os meus amigos também partilham das frustrações e dissabores de quem vive a contemporaneidade da imbecilidade sistêmica.

Em tempos de lacração e cancelamento, não é de se admirar que a demência invadiu todos os campos: a política (esta, aliás, é a principal responsável, penso, pelo estado de coisas do agora), a sociedade, a educação, as relações homem e mulher, a família… As bases que alicerçam o bom senso foram destruídas, ou, usando a expressão dessa gente tola: ‘‘desconstruídas.’’

Sob o pretexto de uma espécie de ‘‘evolução dos novos tempos’’, em detrimento dos costumes e valores que deveríamos preservar, assistimos à deterioração do homem pelo néscio. Nesse novo mundo, ninguém é mais homem ou mulher; ou melhor, agora cada um é o que quiser ou o que pensa ser, independentemente do que o seu sexo natural demonstra ser, inegavelmente.

Na era da imbecilidade sistêmica, a estrutura linguística foi à bancarrota. Agora temos asnos guiando asnos mediante a risível linguagem neutra – que de inclusiva não tem nada.  Ou seja, um completo desrespeito para com a norma culta: escrita e falada. Um desrespeito para com a língua portuguesa, sem qualquer sombra de dúvidas, preclaro leitor.

Quando se fala em conservar valores que deram certo, que nortearam a boa procedência do homem até aqui, logo interpretam conservadorismo como reacionarismo – o que não é verdade. Isso é mero erro de semântica, típico dessa geração tapada – mas, entretanto, com ares de intelectualidade. Quando só se lê bobagens (isso quando se lê alguma coisa), é isso que acontece: o cérebro atrofia, fica limitado ao mundo fantasioso que criaram, e empurram, hoje, goela abaixo na gente.

São tempos difíceis, caro leitor. Ainda bem que nem todos entraram nessa onda patética do politicamente correto, dos mimados e ofendidos, dos ressentidos com o mundo, dos ‘desconstruídores’, dos patrulheiros militantes execráveis. Fico com os sãos aviltados, com os meus poucos amigos lúcidos e com os meus bons livros. Viver no ostracismo, aqui, é vantagem. Fuja dessa gente, da imbecilidade sistêmica, amigo leitor, antes que seja tarde, e lhe veja referindo-se a alguém como ‘‘amigue.’’

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

MAIS Notícias
O Conservadorismo de Michael Oakeshott
O Conservadorismo de Michael Oakeshott

‘‘Assim, ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o facto ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente...

Supressão da liberdade de expressão
Supressão da liberdade de expressão

  ‘‘Se nós não acreditamos em liberdade de expressão para pessoas que detestamos, nós não acreditamos em liberdade de expressão.’’ - Noam Chomsky   Há pouco tempo (no início do mês abril) falei, aqui, neste importante periódico, sobre a espiral do silêncio,...

Conhecendo a boa música, o rock! (parte I)
Conhecendo a boa música, o rock! (parte I)

O ano era 1992 (eu acho), quando, ao ouvir uma fita K7 (de artistas diversos) que minha mãe escutava enquanto lavava roupas, me deparei com uma canção de um sujeito que eu gostei bastante. Aos dez anos, não sabia o que era estilo musical, portanto, sertanejo, pagode,...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *