Sobre os ressentidos e suas propostas

25/12/2020

Não sei quanto ao amigo leitor; mas sempre me soou estranho certas máximas dessa nossa geração lacradora, censuradora, que “tudo sabe”. Uma delas seria a paradoxal ideia de buscar igualdade através justamente da segregação. A divisão, sob pretexto de dívida, de “desigualdade” leva quem tal teoria nefasta sustenta, ao erro grotesco do separatismo visceral.

Promovem justamente o contrário do que dizem propor. Dividem negros e brancos, ricos e pobres, homens e mulheres, héteros e gays, gordos e magros… Na política então, nem se fala… O velho maniqueísmo ‘‘bem x mal’’ nunca estaria tão intenso nas suas intenções. E sabemos bem que é o bonzinho da história: o canhotinha, claro!

Sempre que vejo alguém com ares de humanista, sentindo-se o suprassumo da bondade, o paladino mor dos fracos e oprimidos, suspeito que esse sujeito sofre de um terrível mal, que seja, a imagem distorcida que tem de si mesmo, de sua alma assaz bondosa! Não demora muito, logo vemos a máscara cair e, por detrás de toda bondade, vemos o real intento: o desejo pelo domínio, pelo controle, por manobrar a ditar as regras de como devemos ser.

Buscam melhorar o mundo, piorando-o; não o aceitando em suas imperfeições. São ressentidos com o mesmo. Para corroborar com a linha de pensamento aqui esboçada, deixo, ao amigo leitor, um pensamento do filósofo Luiz Felipe Pondé, que pode ser encontrada no ótimo livro intitulado “A Era do Ressentimento”:

“No futuro, não seremos lembrados como a era do iPad, nem da Apple, mas como a era do ressentimento. Provavelmente, considerarão os gregos e romanos mais importantes para as civilizações do futuro do que a nossa presente, pautada por pequenas intenções narcísicas.

O narcisismo não é a marca de alguém que se ama muito, mas a marca de alguém que vive lambendo suas feridas porque é um miserável afetivo. Mas por viver se lambendo, pensamos ser ele alguém que se ama muito, sendo que, no entanto, é justamente o contrário. Incapaz de ter vínculos, o narcisista vive a serviço de si mesmo.

Pobre diabo que enche nossas ruas e nossas camas. Não será a coragem, a disciplina, o medo, o desespero existencial que farão a história das mentalidades de nossa era, mas o sentimento de que merecemos mais do que temos. Uma chaga.”

Aqui encontramos o germinal do estado de coisas atual. O ressentimento fez do homem, um banana reclamão, mimizento e cheio de “desconstruções” vergonhosas. O politicamente correto é, sem dúvida alguma, o seu filho mais mimado. Cuidado com essa gente; são de péssima qualidade.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

 

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