STÉPHANE MALLARMÉ

28/05/2022

Evocando Skakespeare: happy few (felizes os raros) que conseguem a dádiva de realizar uma boa tradução. Durante vários meses, in gravi labore, trabalhamos na forma vernacular do “Brise Marine” do quase indecifrável e enigmático poeta simbolista francês Stéphane Mallarmé (1842-1898). Com grata recompensa, conseguimos manter todo o esquema rimático e métrico em alexandrinos clássicos. Ecce lectori, Eis ao leitor:

 

                               Brise Marine

La chair est triste, hélas! Et j’ai lu tous les livres.

Fuir ! Là-bas fuir! Je sens que des oiseaux sont ivres

D’être parmi l’êcume inconnue et les cieux!

Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux

Ne retiendra ce coeur qui dans la mer se trempe

O nuits! Ni la clarté déserte de m alampe

Sur le vide papier que la blancheur défend

Et ni la jeune femme allaitant son enfant.

Je partirai! Steamer balançant ta mâture,

Lève l’ancre pour une exotique nature!

 

Un ennui , désolé par les cruels espoirs,

Croit encore à l’adieu suprême des mouchoirs!

Et, peut-être, les mâts, invitant les orages

Sont-ils de ceux q’un vent penche sur les naufrages

Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles ilots…

Mais, ô mon coeur, entends le chant des matelots!

 

                                      Brisa Marinha

Ai! A carne é triste e os livros todos li;

Além, fugir, além; pássaros ébrios vi

Nos céus, na estranha escuma e nada os faz parar

Nem os velhos jardins mergulhados no olhar

Nem este coração que se molha no mar.

Ó noites! Nem a luz deserta a iluminar

O vazio papel. Nada há de brotar.

Mastros! Eu partirei! Ó nautas, com postura!

A âncora subir à exótica natura.

Um tédio de cruéis esperanças tomado

Crê ainda no adeus de um lenço agitado.

E os mastros, talvez, exortando as procelas

Venham depois pender, ao vento, sobre elas.

Sem mastros. Tudo em vão. Perdidos paradeiros…

Mas sabes, coração, o som dos marinheiros.

 

*Tradução de Everton Alencar

Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará  

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

MAIS Notícias
Nomen Est Numen
Nomen Est Numen

No segundo ato, cena II de Romeu and Juliet Skakespeare escreveu: What’s in a name? That which we call a rose by any other name would smell as sweet.” É uma das falas da doce Julieta. Ela interroga sobre a importância de um nome e diz que uma rosa chamada por outro...

VESTIGIA
VESTIGIA

Sócrates, conforme os escritos de Platão, foi o principal veiculador da teoria da Recordatio animae. A teoria da Recordação. Possivelmente as raízes mais pretéritas dessa profunda teoria encontram-se na esotérica religião egípcia, a qual foi assimilada por Pitágoras e...

Devaneios Machadianos III
Devaneios Machadianos III

“The rest is silence...” Skakespeare   No dia 11 de setembro de 1859, Machado de Assis escreveu: Afinal tudo isso desaparece como fumo que o vento leva em seus caprichos, e o homem à semelhança de um charuto desfaz a sua última cinza, quia pulvis est. Aqui não é...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *