‘‘Se nós não acreditamos em liberdade de expressão para pessoas que detestamos, nós não acreditamos em liberdade de expressão.’’ – Noam Chomsky
Há pouco tempo (no início do mês abril) falei, aqui, neste importante periódico, sobre a espiral do silêncio, que, muito resumidamente, trata-se conceitualmente de uma coibição do livre pensamento e manifestação dele, mediante represália ou medo de sofrê-la.
A supressão do livre pensamento, incluindo, pasmem, PIADA – o que não é necessariamente a opinião de alguém sobre determinado assunto, mas apenas uma perspectiva criativa e jocosa sobre algo, com o intuito único de fazer rir – é considerada preconceito!
Olhando por esse prisma, por essa mesma lógica, um ator que interpretar, por exemplo, o papel de um assassino, é, invariavelmente, um criminoso! Pois está reforçando um ato criminoso, assim como um humorista no palco contando as suas anedotas! Tocar artisticamente em um tema delicado já é apoiá-lo?
Como vimos nos noticiários, o humorista Léo Lins foi condenado a oito anos e três meses de prisão em regime fechado pela 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo por piadas consideradas preconceituosas em um vídeo publicado no YouTube.
Não há mais espaço para a arte livre na era da patrulha e do politicamente correto, uma vez que não se difere uma opinião preconceituosa de uma manifestação artística. Não basta não gostar de humor negro, é preciso perseguir e prender quem o faz. Ora, meu caro, o cerceamento de manifestação artística não era coisa da ditadura militar, tão criticada pela esquerda?
Temos, agora, os novos censores trajados de paladinos da justiça social. Suavemente, imperceptivelmente, aos poucos, o direito à fala vai sendo negado. Foi assim em todo sistema autoritário no decorrer da história; ou alguém, ingenuamente, acha que a tomada do poder por meio de sansões e ideologias se dá da noite para o dia? Não, amigo, não! Quando menos se notar, já se está inserido no campo solitário do silêncio autoritário.
É lamentável vermos até mesmo artistas apoiando essa medida radical e infundada! É doentia uma sociedade que se cala e, mais ainda, normaliza uma conduta que visa sufocar a liberdade de expressão e do fazer arte. Quando o silêncio se tornar totalitário, quando o Estado se tornar soberanamente autoritário, talvez consigam entender sobre o valor da liberdade que um dia tiveram.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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