19 de março 2024: centenário de Mazé do Bandolim

23/03/2024

Maria José Leite Araújo, ‘Mazé do Bandolim’, completaria 100 anos no último 19 de março. Ela nasceu em São Mateus, atual município de Jucás, em 1924. Filha do casal José Facundo Leite e Ormecinda Correia Leite, tornou-se conhecida por seus dons carismáticos, bom humor e principalmente por uma particularidade: suas habilidades para tocar bandolim.
Mazé foi uma cidadã do mundo. Viveu suas emoções mais intensas em quatro cidades diferentes. Jucás, Cariús, Iguatu e por último Fortaleza, onde deixou influentes grupos de amigos e pessoas que aprenderam a amá-la, admirá-la e a compartilhar de sua alegre convivência no dia a dia. Dona Mazé era o símbolo da alegria e felicidade constante. Seu bom humor contagiava qualquer ambiente.

Na terça-feira, 19, dia dedicado a São José, data do aniversário de dona Mazé (saudosa memória), o escritor Álder Teixeira dedicou um texto a ela em sua página no Facebook. Uma homenagem para lembrar a Mazé sensível e de dotes habilidosos com o bandolim nas mãos, como era em sua época de mocidade, quando tocar bandolim, para as moças, era quase que como um sacerdócio, assim como era aprender crochê, bordado, ser esposa dedicada e mãe.

A música que Mazé conseguia fazer ecoar do instrumento de origem italiana era capaz de transpor muralhas, quebrar tristeza, alegrar corações e até pensar utopicamente num mundo melhor, sem violência, indiferença, guerra, miséria, desigualdade. “Hoje, Mazé do Bandolim, como tornar-se-ia conhecida, por certo cobrirá de música os mais belos escaninhos do Céu, e de luz os corações mais doces e mais ternos, pois que dos seus olhos e seu sorriso solto, de sua gargalhada inesquecível, haverá de renascer em sua homenagem, a esperança na bondade dos homens, a confiança no porvir, a utopia de um mundo melhor”, escreveu Álder.

  • Coincidentemente, Dona Mazé está sendo homenageada na edição nº 1.200 do jornal A Praça, exatamente no mês de aniversário do semanário mais longínquo da história da imprensa escrita de Iguatu. Dia 31 de março, o A Praça completa 23 anos de publicações ininterruptas. Era uma de nossas leitoras mais fiéis, gostava muito das páginas e publicações do periódico.

Musicalidade
Mas a Maria José não era uma moça igual as outras. Ela carregava a música no DNA, pelo simples fato de ter nascido no meio de uma família de músicos. Aprendeu a tocar bandolim como a mãe, dona Ormecinda, encorajada a tocar pelo pai, José Facundo Leite, fundador da Orquestra Filarmônica de sua cidade natal. A ligação da família com a música evoluiu para o surgimento da Banda de Música Pe. Pio, fundada por Álvaro Correia, tio de Maria José. Celi Correia, irmã de Álvaro, também tinha habilidades musicais, inclusive com o bandolim. Outro tio de Mazé, Luiz Correia, tocava trombone na banda de música Pe. Pio. Curiosamente Luiz era parcialmente surdo, mas a música, para ele, tocava mais alto.
Mazé viveu até a adolescência em Jucás, sob a tutela dos pais, rodeada pelos irmãos. Deixou a companhia da família para se casar aos 17 anos. O pretendente, Edmilson Araújo Lima, um iguatuense que se transferiu para Cariús ainda criança, na década de 1920. Chegou a solo cariuense com os pais Joaquim Teixeira de Araújo e Maria Lima de Araújo, e os irmãos Airton e a menina Edmar (madre Teixeira). Na época a mudança para Cariús foi justificada pela promessa do desenvolvimento socioeconômico da região, com a construção da estrada de ferro pelos ingleses, na linha Fortaleza/Crato. Edmilson já era rapaz quando começou a trabalhar na indústria Montenegro de beneficiamento de Algodão. Trabalhou até 1955, quando foi prestar seus serviços em outra importante empresa, do mesmo setor, a indústria Rolim, do saudoso Leontino Rolim. Ficou lá até 1957, quando resolveu retornar para sua terra natal Iguatu. Na época foi contratado pela CIDAO – Companhia Iguatuense de Algodão e Óleo. Trabalhou na empresa até o fechamento em meados dos anos 80.
Quando encerrou sua jornada na CIDAO, Edmilson Araújo entrou numa sociedade comercial com Valdeberto Rolim, na empresa que comercializava fogões e botijões de gás em Iguatu. Quando a sociedade se desfez, ele fundou o Mercantil Iguatu, empresa que administrou com a esposa Mazé até seu falecimento em 1996. Mazé viria a falecer seis anos depois, em 2002, aos 78 anos de idade.

Sonho realizado
Três anos antes de partir, quando estava com seus 75 anos bem vividos, dona Mazé realizou um sonho: gravar um CD (compact disc), totalmente instrumental aos solos ritímicos do bandolim que ela dominava com maestria. Reuniu em estúdio um dos melhores times de músicos, arranjadores, instrumentistas: Carlos Ferreira (clarinete), Heriberto Porto (flauta), José Edson (trombone), Paulo de Tarso (cavaquinho), Paulo Rubens (pandeiro) Luizinho Duarte (bateria) e José Aldemir (banjo). Os arranjos ficaram a cargo do maestro Adelson Viana.
A gravação do disco, trabalho inédito, repercutiu no meio musical na época e dona Mazé viveu o auge de sua vida na música. Foi convidada até para o Programa do Jô, do apresentador Jô Soares, na Globo. Carregada de seu bom humor e suas histórias, levou a plateia aos risos, que retribuiu com muitos aplausos, quando ela tocou um ‘chorinho’ no bandolim.
Mazé participou de noites memoráveis nos eventos de lançamento do CD, primeiro no Teatro do Ibeu, em Fortaleza. Segundo o relato do filho da homenageada, Germano Leite, foi o maior público já registrado em toda história do teatro. A agenda de apresentações do lançamento do CD incluiu o anexo do Teatro José de Alencar, as cidades de Jucás, Fortaleza e Brasília, esta última, na reinauguração da Casa Ceará, na capital da República.
Dra. Ósia de Carvalho, amiga de dona Mazé, de longos carnavais, se referiu a ela com um misto de gratidão, amizade e companheirismo. “Pessoa amável, amiga e talentosa”, Ósia, que também toca bandolim, afirmou que não é muito difícil lembrar os momentos alegres ao lado dela e as apresentações do grupo musical Minueto, do qual ambas participavam. “Tínhamos encontros nas praças, serenatas no Natal, encontros semanais no SESC, programas na rádio Cidade, encontros no bar do Hélio, muita movimentação. Tenho inclusive uma valsa que fiz em homenagem a ela: ‘Saudade de Mazé’”.
Ainda de acordo com Ósia de Carvalho, Mazé marcou um período culturalmente muito rico no grupo Minueto. “Eram quatro bandolins, um cavaco, dois violões e um violino. Bandolim: Leonora Correia, Lindava da Silva, Mazé e Ósia Carvalho, no cavaco professor Apolo, violão Benvenuto e Hélio Teixeira, no violino professor Aloisio Moreira”. O grupo Minueto, segundo Ósia, era convidado ilustre das missas dominicais na igreja de Senhora Sant’Ana, aniversários e casamentos, e Mazé com seu bandolim era destaque. “Agradeço pela oportunidade que tivemos de difundir a cultura do bandolim em Iguatu, inclusive com apoio do SESC, na pessoa de Raimundo Neto, fundamos uma escola de bandolim. O SESC doou dez bandolins. Num trabalho voluntário em seis meses estavam os nossos alunos fazendo concerto nas praças celebrando o Natal. Mazé faz parte deste pedacinho de saudade”, afirmou.

Família
O instrumento para ela era o único meio de lazer, entretenimento e distração. Quando casou ainda muito jovem, dois anos após a fase de debutante, ela foi deixando o bandolim em segundo plano. As tarefas de casa, os filhos que foram nascendo, o trabalho para ajudar o marido e as muitas prendas do lar foram consumindo seu tempo, passando longos períodos sem sequer tirar uma nota, um solo. Tocava esporadicamente, mas em 1979 resolveu parar definitivamente invadida por sua tristeza mais profunda, por causa do falecimento de uma filha. Fez as pazes com o bandolim no seu aniversário de 60 anos quando ganhou um instrumento novinho de presente do esposo Edmilson.

Mazé do Bandolim e Edmilson Araújo viveram juntos por mais de 55 anos. Formavam um casal perfeito. Foram nascidos um para o outro. Bastava olhar para eles juntos, para compreender quanto amor, cumplicidade e fidelidade havia em seus corações. Tinham total afeição, afinidade e se olhavam com paixão o tempo todo.

Tiveram 20 filhos e conseguiram criar 12. Joaquim Adonias Leite Araújo, Edmilson Araújo Junior, Maria Ângela Leite Araújo, Maria Ormecinda Leite Araújo, Liduína Leite Araújo, Francisco Marto Leite Araújo, Ana Angélica Leite Araújo, Zaqueu Leite Araújo, Maria Alix Leite Araújo, Maria Edma Leite Araújo, Maria José Leite Araújo e José Germano Leite Araújo.

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