“A Psicologia busca promover saúde mental através de suas teorias e técnicas, com base em ações e intervenções eficientes, diante de um “mundo novo” repleto de incertezas”, Larissa Suárez – psicóloga

Nesta edição do A Praça o caro leitor acompanha entrevista com a experiente psicóloga, Larissa Suárez, coordenadora do curso de Psicologia da FASC-Faculdade São Francisco do Ceará. Entre outras abordagens, ela fala sobre o papel dos psicólogos num mundo pós-pandemia.

12/03/2022

A Praça – Qual será o grande papel dos psicólogos num mundo pós-pandemia?

Larissa – Diante de uma pandemia, a Psicologia passou por vários processos de adaptação: entre eles, “o atendimento online” com base na Resolução CRP n. 11/2018, em que a classe profissional passa a ter autorização para oferecer consultas ou atendimentos por diversas ferramentas da Tecnologias de Informação – TI, desde que não fira o código de ética. Após a autorização da atuação profissional no serviço on-line foi possível identificar uma crescente busca a esse serviço. Psicólogos e pacientes aderem a essa nova modalidade de estreitamento de vínculos, a procura de uma melhoria em sua saúde mental. A busca pelos serviços da Psicologia nunca foi tão constante, há filas de espera nos consultórios psicológicos e nos serviços de saúde pública. A carreira passa a ter uma maior notoriedade, surge, então, a necessidade de, cada vez mais, profissionais atuando na área clínica (com atendimentos e intervenções psicológicas), na saúde (na promoção de saúde e nas práticas que envolvem a psicossomática) e na educação (a readaptação de professores e alunos em sala de aula). A Psicologia tem se colocado à disposição da qualidade de vida das pessoas em época de pandemia e se prepara para as grandes demandas de um Brasil pós-pandemia. O mundo mudou e com ele a forma de “fazer Psicologia”, novas ações governamentais e não governamentais estão sendo realizadas almejando acompanhar a realidade da vida após um cenário de perdas, medos e insegurança. Sendo assim, a Psicologia busca promover saúde mental através de suas teorias e técnicas, com base em ações e intervenções eficientes, diante de um “mundo novo” repleto de incertezas.

A Praça – Por que as doenças emocionais estão mais evidentes agora?

Larissa – Ainda estamos atuando em um contexto pandêmico, a profissão é deficitária em questões relativas à intervenção psicológica de emergências, desastres, morte, luto e perda. É preciso educar, não apenas para a vida, mas também para a morte, é preciso vivenciar os rituais de despedida, uma vez que esse se torna um dos grandes desafios da psicologia atual. Grande parte da população brasileira está adoecida, ainda no que tange à situação de saúde mental, a população em geral vivencia um momento de pânico, medo e estresse. O aumento do uso de drogas licitas e ilícitas é evidente em todo o país, a insegurança e a criminalidade estão sendo evidenciados frequentemente em nossos jornais regionais e locais, o isolamento social vem acompanhado do desencadeamento dos transtornos alimentares, da dependência das tecnologias (nomofobia), dos transtornos do sono, da depressão maior, da distimia, da bipolaridade, da ansiedade, entre outros distúrbios da personalidade. Vivemos em uma sociedade com comorbidades psicológicas, psicopatologias essas desencadeadas no período pandêmico.

A Praça – Pessoas que tiveram Covid, agora, mesmo curadas têm que conviver com o medo das sequelas, como a psicologia pode ajudar?

Larissa – Diante desse cenário, a Psicologia pode atuar desde as emergências até os contextos clínicos de assistência social nos hospitais e de saúde em geral. Dentre suas funções e habilidades o (a) psicólogo (a) pode realizar palestras e orientações sobre higiene, para diminuir a contaminação do coronavírus; orientar sobre as mudanças de hábitos e as emoções durante a pandemia; auxiliar os profissionais da saúde que atuam na linha de frente no tratamento dos pacientes com Covid-19; acolher familiares que passam por luto complicado diante da morte de um ente querido; apresentar e orientar o uso de técnicas que diminuam a ansiedade; promover atendimento online; orientar crianças sobre a educação para a morte; apresentar práticas de promoção a saúde como exercícios de relaxamento, respiração, meditação, entre outros.

A Praça – A senhora coordena o curso de Psicologia da FASC em Iguatu. Este curso está sendo implementado na abertura do semestre 2022.1. Como a instituição se preparou para este momento?

Larissa – A nossa diretora presidente Vera Lúcia Claudino, diante de sua visão estratégica de mercado, busca constantemente trazer para a FASC o que há de mais evidente, atendendo, assim, as demandas e tendências nacionais. A idealização do curso de Psicologia foi algo planejado de forma acadêmica durante a pandemia, o curso chega à cidade de Iguatu no Ceará com aprovação de qualidade máxima expedida pelo Ministério da Educação – MEC, o curso foi estruturado com base em disciplinas e conteúdos programáticos por diretrizes curriculares baseadas em competências e habilidades profissionais. A partir do presente semestre 2022.1 o curso de Psicologia inicia sua atuação com oferta de bolsas Prouni (06 bolsas) e FIES (40 bolsas), a IES possui estrutura inovadora para acolher os futuros acadêmicos, biblioteca atualizada, corpo docente composto por mestres e doutores. Estive como coordenadora à frente da comissão de autorização e estarei como coordenadora e docente do referido curso, para mim uma satisfação imensa levar a Psicologia à Região Centro-Sul do estado do Ceará. Espero, através da Psicologia, colaborar com o crescimento e desenvolvimento local.

A Praça – Este curso chega como um divisor de águas para a instituição?

Larissa – Atualmente, a Psicologia é considerada uma das profissões protagonistas na construção social. Nunca foi tão relevante atuar de forma multidisciplinar, é com essa perspectiva que o curso de Psicologia surge, tornando-se um divisor de águas na IES, uma vez que se apresenta como uma proposta não apenas focada das demandas clínicas, mas, com uma base de formação biopsicossocioespiritual, capaz de dialogar com diversos campos de formação. O curso foi pensado para a cada semestre suprir as demandas da formação, além de assistir a população através de projetos de extensão e de parcerias assistenciais tanto no município de Iguatu quanto em toda a região.

A Praça – Os psicólogos cuidam das pessoas com transtornos mentais, e quem cuida dos psicólogos? Os psiquiatras?

Larissa – Quem cuida também merece ser cuidado! Diante das demandas diárias de transferências e contratransferência no ambiente organizacional, o profissional que atua em saúde mental também necessita de acompanhamento psicológico. Através da terapia se torna possível não somatizar as demandas clínicas e preparar-se psicologicamente para enfrentar situações típicas e atípicas no ambiente de trabalho. É importante ressaltar que os profissionais que atuam como psicólogos (as) são tão humanos quanto seus pacientes, desta forma também devendo estar em acompanhamento psicológico. Sendo assim, o tratamento psiquiátrico é solicitado pelo (a) psicólogo (a) que acompanha o profissional apenas quando existir tal demanda.

A Praça – O mundo está de cabeça para baixo. Após a pandemia, veio uma guerra, da Rússia atacando a Ucrânia, um risco de um conflito mundial. Mais trabalho para os psicólogos?

Larissa – O Brasil tem sido um local de procura de muitos migrantes na busca de oportunidades para recomeçar a vida, o número de migrantes no Brasil vem crescendo consideravelmente, as políticas públicas brasileiras se mostram eficazes diante do contexto, no entanto, nunca é demais repensar a possibilidade de algo mais abrangente. O Conselho Federal de Psicologia – CFP tem promovido eventos e formações buscando contribuir para uma reflexão sobre o fenômeno migratório e os grandes desafios que tais fenômenos podem trazer ao campo da Psicologia. Estar preparado para o contato com refugiados, migrantes e apátridas, são pontos que fazem parte da formação do (a) psicólogo (a) diante de situações de emergências. O olhar lançado pela Psicologia sobre o imigrante deve ir além da clínica psicológica, é preciso trabalhar o âmbito social. Sendo assim, temas como: os benefícios da migração para a sociedade; a precária situação dos refugiados; e o crescimento da xenofobia no país; são sempre pautas a serem levadas em consideração na formação do psicólogo. Acolher, ouvir, cuidar e fazer parte da colaboração para readaptação de refugiados, migrantes e apátridas, faz parte do fazer Psicologia no Brasil, que não pode fechar os olhos às questões mundiais.

Perfil Profissional

Larissa de Araújo Batista Suárez: bacharela em Psicologia e bacharela em Administração de Empresas. Doutora e Mestre em Psicologia Clínica. Pós-graduada em Psicologia Organizacional, pós-graduada em Psicopedagogia, pós-graduada em Gestão de Marketing e Gestão de Pessoas, pós-graduada em Tutoria em EaD e Docência do Ensino Superior, pós-Graduada em Gestão Estratégica e Empreendedorismo, pós-graduada em Terapia Familiar e pós-Graduada em Psicologia Jurídica e Avaliação Psicológica. Membro da linha de Pesquisa “Família, Interação Social e Saúde”, com Estágio Docente em Psiquiatria, pesquisadora de temáticas relacionadas à família, maternidade, perda, separação, morte, luto, estresse, ansiedade, depressão, suicídio, transtornos de personalidade, saúde do trabalhador, gestão de pessoas, comportamento organizacional e comportamento do consumidor. Atualmente atua como Consultora Empresarial e Coordenadora dos cursos de bacharelado em Psicologia das Faculdades São Francisco – FASC/FASP. Leciona nos cursos de Administração, Direito, Enfermagem, Educação Física, Farmácia, Fonoaudiologia, Nutrição e Psicologia. Também possui experiência prática na área de Gestão em Políticas Públicas Sociais.

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