Armas de brinquedo, sinônimo de uma boa infância

10/12/2022

Certamente, quem passou pela infância e/ou adolescência na saudosa década de 90, vivenciou momentos emocionantes e indizíveis com seus amigos a correr pela rua com seus revólveres de plástico ou de madeira, brincando, assim, de ”polícia e ladrão”. E o que dizer daqueles revólveres com espoleta?! A sensação e o cheiro daquelas pólvoras, eram, de fato, cheiro de infância bem vivida; de crianças felizes com suas espadas do He-Man ou do Zorro; com suas adagas, nunchakos e bastões das Tartarugas Ninja…

As manhãs eram repletas de violência e sangue, assistidos amiúde por toda a turma. Pica-Pau, Tom & Jerry, Cavaleiros do Zodíaco, tokusatsus como Jaspion, Changeman e muitos outros traziam para nós a magia de um mundo onde o faz-de-conta era imitado em nossas brincadeiras representadas com massas de modelar, desenhos rabiscados no papel, lutas forjadas onde, com alguns socos acertados, ao final do dia, voltávamos para casa sem rancor no coração, nem desejo de vingança ao colega. Era só brincadeira, não havia espaço para intrigas; quando elas ocorriam, era questão de dias para voltarmos a nos falar (quando não, no mesmo dia).

Creio que fomos a última geração virgem, isenta dessa propagação repugnante do asqueroso ”politicamente correto”, onde veem maldade e preconceito em tudo. São gente ressentida com a vida, não lhes deem ouvidos. Compre o revólver de brinquedo, a espada, a bazuca, os soldadinhos, o tanque de guerra… Dê a seu filho a oportunidade de saborear um pouco do que vivenciamos na eterna memorável década de 90.

Ah… de todos os que comigo vivenciaram essa – dita por eles – ”incitação à violência”, NENHUM tornou-se assassino, espancador, surrupiador, estuprador… Absolutamente nenhum! Ensine seu filho a ser criança, não um moloide retardado feito essa geração de imbecis com o coração cheio de infelicidade, onde tudo o que fazem é encontrar maldade em tudo quanto for inócuo.

Cachimbo

Certo dia resolvi sair a pé, a esmo pela cidade, pelas ruas menos movimentadas. Numa delas havia um homem baforando um cachimbo… lembro-me de que há tempos não fumo cachimbo. Aquele ambiente cheio de moscas por sobre a mesa escura, os encartes de mulheres seminuas (desses que encontramos em qualquer oficina ou borracharia de qualquer cidade)… os famigerados copos americanos me remeteram há tempos de outrora, onde bebia cachaça – com limão de tira-gosto – e fumava cachimbo.

Pois bem, adentrei ao recinto onde homens com o dobro da minha idade me olhavam com desdém, não me dando crédito, fitando o olhar para o meu cabelo ”engomado” e de pouco gris. Fingindo não me importar, pedi meia dose de cachaça, com seriguela de acompanhamento. Olhei para um grupo fechado de carteadores. Eles, de tão compenetrados, sequer notaram minha presença.

-”’Solzim’ quente, né?!” – Falei para o ”homem do cachimbo”, que se mostrou muito simpático para comigo, um transeunte insolente. Já com mais intimidade, sentindo-me à vontade, pedi-lhe um trago do seu cachimbo, em troca, lhe daria cigarros. Feito o acordo, com o cachimbo em mãos, pus-me a tragá-lo…tonteei pelo forte fumo inalado. Senti o mundo girar e o coração bater mais forte ao ser atingido pelos efeitos químicos e saudosos que aquele mísero charuto me oferecia.

Após o êxtase, fiquei ali contemplando a gente humilde dentro e fora daquele lugar. O mundo se torna mais belo quando até mesmo um simples trago é degustado com o sabor da vida que pulsa nas veias ameaçadas pelo próprio fumo. O ambiente simples e o que eles nos proporcionam, ainda é o melhor lugar para se estar.

 

Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História

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