“Desde pequeno que eu já pensava em fazer psiquiatria, é uma coisa que realmente me completa”.

26/03/2022

O médico psiquiatra Antônio Weimar Gomes dos Santos foi o principal responsável pela reforma psiquiátrica no município de Iguatu, com a fundação do 1º CAPS-Centro de Assistência Psicossocial, do Nordeste, no ano de 1991. Nesta quinta-feira, 23, o médico retornou a Iguatu para receber homenagem e participar da Conferência Municipal da Saúde, quando foi homenageado, mesma ocasião em que falou para os leitores do A Praça, sobre os efeitos de sua visão estratégica para o atendimento aos pacientes mentais de Iguatu e região

A Praça – Como o senhor se sentiu ao ser lembrado pelo município de Iguatu nesta homenagem?

Dr. Weimar – Olha, sinceramente, as minhas palavras são poucas para agradecer à lembrança do meu nome, e para me prestar essa homenagem. Realmente é um momento especial da minha vida pessoal e profissional, saber que aquela semente que foi lançada há trinta anos atrás tem gerado tantos frutos. Hoje já são mais de 100 CAPS no Ceará e prestando um serviço que ameniza a dor daqueles que sofrem de doenças mentais, principalmente em função do que havia, que era internar os pacientes em hospitais psiquiátricos, aonde eles iriam sofrer muito, hoje a gente luta para que esse tratamento seja junto à comunidade, junto à sua própria família. Eu estou muito feliz, mais uma vez Iguatu, que já tem me dado tantos presentes, eu fui vereador aqui também, eleito pelo voto direto das pessoas, e me dá mais um outro prêmio que é esse reconhecimento pelo trabalho. Eu implantei, mas é bom lembrar que foi uma equipe que trabalhou junto comigo, porque sozinho eu não teria conseguido. Essa equipe muito valiosa, muito importante, eu também tive o apoio do prefeito Hildernando Bezerra, na época e do Dr. Carlile Lavor, secretário de Saúde do Estado, ou seja, era um trabalho coletivo, e eu fico muito feliz de ter sido reconhecido por este trabalho.

A Praça – Em dois anos de pandemia, o mundo parece ter virado pelo avesso. Podemos afirmar que agora o mundo precisa muito mais dos psiquiatras e dos psicólogos?

Dr. Weimar – Eu acho que nós herdamos um mundo muito complicado, pós-pandemia. Um mundo de pouco amor, pouco afeto, pouca solidariedade e muita indiferença, muita desconfiança e muita descrença. A pandemia nos deixou muitas perdas, apesar disso, ainda hoje tem pessoas que ainda não se vacinaram, o que é muito grave, vemos muita hostilidade entre as nações, o aumento do custo de vida em todos os sentidos, então precisamos encarar que o mundo não é mais como era antes. Mas precisamos acreditar que ele vai melhorar.

A Praça – Em 1991 o senhor quebrou muitos tabus ao avançar com a reforma psiquiatra, fundando em Iguatu o 1º CAPS do Nordeste. O que o senhor visualizava naquela época, em relação a assistência aos pacientes mentais?

Dr. Weimar – Eu visualizava prestar uma assistência melhor, do que a internação em Hospital Psiquiátrico, essa era a minha visão da ação. Nós tivemos muitas dificuldades, porque as pessoas, no começo, elas queriam que a gente internasse os pacientes, e nós fizemos todo o esforço para não internar, porque nosso maior objetivo era melhor a qualidade de vida daquelas pessoas acometidas de problemas de saúde mental, queríamos que elas tivessem menos sofrimento.

A Praça – Quais são os desafios da atenção à saúde mental hoje? Existe uma rede de atenção básica?

Dr. Weimar – Os desafios são muito grandes. Precisamos do apoio da Rede, precisamos da integração da Rede, a Rede de atenção geral e a Rede de Atenção Psicossocial, para que a gente possa prestar um serviço melhor. Melhorar o funcionamento das próprias equipes, porque há 30 anos atrás ninguém nem acreditava que isto pudesse dar certo, primeiro porque naquela época as coisas vinham da capital para o interior, e nós começamos no interior e fomos do interior para a capital. Então, foi uma mudança fundamental, e eu fico muito feliz com isso, vendo aqui todas as pessoas presentes numa conferência e saber que nós começamos com uma equipe de seis, sete pessoas, hoje já temos todo esse grupo, é uma vitória, algo que me deixa muito feliz.

A Praça – O que mudou na vida dos pacientes mentais, a partir do fechamento dos manicômios, e a criação dessas unidades de assistência psicossocial?

Dr. Weimar – Mudou em tudo, todos os aspectos, porque a internação colocava aquele ‘estigma’ de ‘louco’ nas pessoas, e nós sentimos que quem poderia dar uma assistência e cuidar melhor, é a própria família, não tem quem cuide melhor do que a própria família. Então é o suporte ao paciente, a família. Depois de algum tempo de funcionamento, a pressão que a gente sofria para internar se inverteu, quando algum precisava de internamento, ou quando a família chegava com o paciente ela já deixa claro “Por favor Doutor, não interne”. Foi o contrário do que acontecia antes, quando as pessoas defendiam internação.

A Praça – Como o senhor analisa o atendimento aos pacientes mentais, hoje, no município? Houve muitos avanços?

Dr. Weimar – Olha eu não tenho como lhe dar uma avaliação mais correta, porque eu não trabalho no serviço público em Iguatu. Então, assim, qualquer opinião que eu fosse dar, não teria o respaldo de quem está vivenciando. O que posso lhe dizer é que nós ainda temos que melhorar muito o atendimento em todos os serviços. Pelo que eu vejo, a demanda é muito grande, nesses tempos de pandemia, a situação se agravou ainda mais, o número de pessoas com ‘Depressão’ e ‘Ansiedade’ é muito elevado, então são muitos atendimentos, mas esses atendimentos precisarão de um tempo maior, uma assistência melhor.

A Praça- A psiquiatria, para o senhor, sempre foi um sacerdócio?

Dr. Weimar – Ah, sempre foi, eu já nasci psiquiatra. Desde pequeno que eu já pensava em fazer psiquiatria, é uma coisa que realmente me completa e eu não vivo sem a psiquiatria. Ela é parte do meu respirar, do meu viver e do meu trabalho.

A Praça- O senhor tem até filho psiquiatra?

Dr. Weimar – Eu tenho um filho psiquiatra, João Victor, que mora em João Pessoa, trabalha lá também, fazendo a parte dele. Para mim é uma realização pessoal, saber que meu filho se tornou médico psiquiatra, inspirado no meu trabalho, e melhor ainda porque foi iniciativa dele, não fui eu quem o incentivou.

A Praça – Quando trabalhou em Iguatu, o senhor foi eleito vereador pelo voto popular. Durante o mandato, uma das ações do seu gabinete foi criar o Prêmio de Ecologia Chico Mendes, para incentivar a Proteção e Defesa do Meio Ambiente. Mais um olhar estratégico sobre uma área relevante? O projeto que o senhor propôs criar naquela época continua atual?

Dr. Weimar – É verdade, esse Prêmio funcionou durante uns dois ou três anos, depois parou. Como saí daqui o prêmio não teve continuação. Então, aqui eu alertei a administração para que retomem esse prêmio, até chamei também os vereadores para alertarem sobre a retomada.

A Praça – Naquela época, o senhor já dava sua contribuição na área de meio ambiente, propondo esse tipo de comenda?

Dr. Weimar – Sim, era uma preocupação, porque tínhamos muitos desafios. Colocavam dejetos de hospital em beira de estrada, a Lagoa de Iguatu era ameaçada pelo lixão, então, a questão dos animais lá do matadouro público, havia muita demanda e quando a gente observa hoje, tudo que a gente propôs fazer em defesa do Meio ambiente naquela época, continua muito atual.

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