Dra. Edislayne Matias Médica pediatra

27/06/2020

Nesta edição do A Praça o leitor se depara com entrevista com a médica pediatra Edislayne Matias. Na abordagem, a profissional com Residência Médica em Pediatria pela Universidade Federal do Ceará – UFC fala sobre os cuidados com a saúde e o bem-estar das crianças que estão isoladas em casa nesta fase da pandemia

A Praça – É verdade que a pandemia pode ter impacto na saúde das crianças, pelo simples fato de elas estarem isoladas em casa, sem exercer a rotina diária normal?

Dra. Edislayne – É verdade. Todos tivemos que mudar nossa rotina com a pandemia e as crianças estão incluídas também. De forma repentina, elas deixaram de ir às escolas, não podem ver os avós, deixaram de ter contato físico com os amigos, as saídas para parques e restaurantes foram proibidas e tudo isso tem impacto na saúde das crianças a curto prazo, como irritabilidade, transtornos do sono, piora da imunidade, medos, e a médio e longo prazo, como atrasos do desenvolvimento, transtornos de ansiedade e depressão.

A Praça – Quais as faixas etárias infantis que podem ser mais impactadas?

Dra. Edislayne – Todas as faixas etárias podem ser impactadas de alguma forma. Bebês e crianças pequenas, que aprendem por meio de atividades pedagógicas que se utilizam de brincadeiras e interações sociais, importantes para o desenvolvimento, podem sentir falta destes recursos tão bem trabalhados nas escolas de educação infantil. Os adolescentes poderão ficar excessivamente preocupados com seu futuro acadêmico e profissional, o que pode levar a quadros de depressão e ansiedade. Também não podemos esquecer das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As mudanças nas rotinas dessas crianças impostas pela quarentena podem causar um sofrimento a mais, bem como a quebra na rotina das terapias podem exacerbar sintomas comportamentais. É importante lembrar que algumas crianças com TEA podem ter o que chamamos de hiper-reatividade sensorial (que é a necessidade de explorar o ambiente, cheirar, tocar os objetos e colocar na boca) o que aumenta a chance de contágio. É importante explicar às crianças sobre a situação atual com uma linguagem simples e adequada para cada idade, de forma tranquila, para evitar o aumento do medo e da ansiedade.

A Praça – As crianças estão em casa e isso tem um fator preocupante relacionado com a alimentação delas. Do que os pais ou responsáveis não podem descuidar de jeito nenhum?

Dra. Edislayne – O cuidado com a alimentação das crianças deve ser contínuo, independente de estarmos em pandemia ou não. É importante ter uma alimentação variada, contemplando todos os grupos alimentares: carboidratos, frutas, hortaliças, legumes, proteínas (de origem animal e vegetal) e gorduras em quantidades balanceadas. Alguns nutrientes são essenciais para a manutenção ou fortalecimento da imunidade, tais como zinco, ferro, selênio e magnésio presentes em carnes e oleaginosas e vitaminas A, C, E e do complexo B presentes em frutas e hortaliças. Outro item que não podemos esquecer é de ingerir bastante água. A hidratação adequada contribui para o bom funcionamento do corpo, ajuda no trânsito intestinal, evitando prisão de ventre, acelera o metabolismo, aumenta a disposição e contribui para o bom funcionamento do sistema imunológico.

A Praça – Os alimentos supérfluos devem ser evitados para prevenir o aumento das taxas de gordura e açúcar?

Dra. Edislayne – Sim. Os alimentos que contém quantidades excessivas de sódio, açúcar e gorduras devem ser evitados, tais como xilitos, bombons, pirulitos, biscoitos recheados, batata-frita, chocolates e refrigerantes. O consumo excessivo desses alimentos pode causar sobrecarga renal, hipertensão, obesidade, diabetes e aumenta o risco de doenças cardiovasculares.

A Praça – O que falar para as mamães que estão na fase final da amamentação? Encerrar de vez ou tentar estimular para amamentar mais um pouco visando proteger e deixar os bebês num patamar de maior proteção contra as doenças invasoras, as bactérias, germes e os vírus?

Dra. Edislayne – O aleitamento materno exclusivo é indicado até os 6 meses de idade e deve ser mantido, de forma complementar com uma alimentação saudável, até os 2 anos de idade ou mais. O leite materno é o alimento mais completo e equilibrado para o bebê até os 6 meses de idade, colabora com a formação do sistema imunológico, previne contra algumas doenças contagiosas. Através do leite materno, o bebê adquire muitos anticorpos da mãe, fortalecendo seu sistema imunológico e protegendo-se contra várias doenças. Portanto, se for um desejo da mãe, a manutenção da amamentação é recomendada.  

A Praça – Quando alcançarmos a fase de transição, em que haverá o fim do isolamento e a vida voltará ao normal, que cuidados os pais deverão adotar com as crianças, principalmente em relação às atividades físicas em recreação ou até mesmo na escola?

Dra. Edislayne – A prática de atividades físicas é benéfica em todos os ciclos da vida e deve ser estimulada. No entanto, diante do momento atual, alguns cuidados precisarão ser tomados e as atividades adaptadas. Por exemplo, evitar atividades que possibilitem o contato físico próximo, substituindo por outras atividades de preferência ao ar livre, as superfícies dos materiais esportivos ou recreativos (como parquinhos) deverão ser limpos com mais frequência, reforçar o uso de máscara e as medidas de higiene. Em relação à volta as aulas tem sido motivo de preocupação por parte dos pais e dos professores, já que as crianças, na maioria das vezes são assintomáticas, e podem acabar transmitindo o vírus para os pais, avós, cuidadores e outros membros da família susceptíveis. Dessa forma, algumas medidas de higiene devem ser adotadas na escola também, tais como a lavagem frequente das mãos com água e sabão ou utilizando álcool gel 70%, evitar o uso de toalhas de pano, evitar tocar nos olhos, boca e nariz, é importante que cada criança leve sua garrafa com água e assim evitem o uso de bebedouros comuns, além disso o uso de máscaras deve ser estimulado em crianças maiores de 2 anos de idade.

A Praça – Existem doenças que podem atacar, até mesmo quando as pessoas estão isoladas, socialmente. Que medidas adotar dentro de casa para preveni-las, indiretamente proteger as crianças de contaminações?

Dra. Edislayne – Os cuidados básicos de higiene devem ser reforçados. Manter a casa limpa, de preferência com janelas e portas abertas para que o ar circule, evitar o acúmulo de lixo, aproveitar esse período para ensinar as crianças a lavar as mãos com frequência, antes das refeições e após o uso do banheiro, evitar levar objetos e brinquedos à boca, ao tossir ou espirrar é necessário cobrir a boca e o nariz com o antebraço.

A Praça – Quais os cuidados com a higienização dos espaços em que a criança permanece por mais tempo na casa?

Dra. Edislayne –  A limpeza da casa deve ser feita pelo menos uma vez ao dia e mais frequentemente nos locais onde a criança permanece mais tempo, incluindo objetos mais utilizados ou tocados (como brinquedos e maçanetas). A limpeza da casa deve ser feita com solução de hipoclorito de sódio 0,5% para as superfícies e com álcool gel 70% para os brinquedos e objetos pequenos. Além disso, é importante não deixar acumular lixo dentro de casa e manter os ambientes arejados, com janelas abertas, onde possa entrar sol, mantendo boas condições climáticas.

A Praça – Se uma criança estiver infectada com o Coronavírus, quais os sinais que ela poderá apresentar, especialmente se for uma criança que ainda não sabe falar? Como perceber esses sinais?

Dra. Edislayne – Ainda não se sabe a causa, mas a maioria das crianças é assintomática ou apresenta a doença de forma leve, apenas uma pequena parcela pode apresentar sintomas graves. Dessa forma, as crianças são fontes de disseminação importante na comunidade. Quando sintomática, a apresentação da Covid-19 nas crianças é bem variada, inclui febre, dor de garganta, tosse, dor de cabeça, dor no corpo, cansaço, falta de ar, pneumonia até quadros de insuficiência respiratória aguda grave e choque séptico. Além de manifestações respiratórias, a Covid-19 também pode se manifestar com quadros de diarreia, dor abdominal, náuseas e vômitos. Mais recentemente, já foram relatados casos de lesões de pele associado a Covid-19.

A Praça – Os hospitais atualmente são locais em que as pessoas, em geral, têm receio de frequentar por causa do nível de contaminação que subiu assustadoramente. No caso da necessidade de levar uma criança que precise de atendimento, o que fazer?

Dra. Edislayne – Nesse período de pandemia, o ideal é levar a criança para o hospital somente em casos de emergência. Havendo essa necessidade, todos os cuidados precisam ser tomados: manter o distanciamento social, lavar com frequência as mãos com água e sabão ou fazer uso de álcool gel 70%, evitar ao máximo tocar em objetos de locais comuns, tais como maçanetas de portas, corrimão, botões de elevadores e todas as crianças, acima de 2 anos de idade, devem usar máscara. Uma dica: antes de levar seu filho à emergência, procure entrar em contato com o pediatra que o acompanha, pois muitas vezes é possível resolver o problema sem a necessidade de ir à emergência, evitando assim a contaminação e a disseminação de doenças.

Perfil

Edislayne Matias é médica formada pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, possui Residência Médica em Pediatria pela Universidade Federal do Ceará – UFC.

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