Neste sábado, 07 de maio, é o Dia Nacional do médico oftalmologista. Para homenagear a importante classe de profissionais, o jornal A Praça traz entrevista exclusiva com o médico Dr. Ariosto Bezerra Vale, membro da Academia Americana de Oftalmologia e dono do título de Especialização em Oftalmologia, pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Dr. Ariosto fala na entrevista sobre como prevenir e tratar as doenças dos olhos e principalmente prevenir o glaucoma, doença que atinge a visão do paciente e pode cegar, tornando a pessoa deficiente visual permanente para o resto da vida

A Praça – Neste sábado, 07 de maio, é o Dia do Médico Oftalmologista. Qual o significado desta data para o senhor?

Ariosto – O dia 07 de maio, que se comemora o Dia do Oftalmologista, no país, é uma data simbólica para a nossa classe, porque no dia 07 de maio de 1930, foi fundada a Sociedade Paulista de Oftalmologia. Então essa sociedade foi que deu origem ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia, Sociedade de Oftalmologia Brasileira, todas as outras sociedades estaduais, e além das sociedades das especialidades. É uma data simbólica e representa um dia de comemoração, a toda essa classe, que se dedica de forma integral à saúde ocular do povo brasileiro.

A Praça – Quando o senhor consegue devolver a um paciente a capacidade de enxergar, após um procedimento médico, qual é a sensação?

Ariosto – A sensação é de realmente você beneficiar, trazer de volta a visão a alguém é indescritível, porque a visão é o sentido mais importante do ser humano. 80% das informações que nós recebemos do Mundo exterior são através da visão. Então, imagina uma pessoa que não enxerga, ela t em uma dependência enorme, dependência de seus familiares, dependência da sociedade, pode desenvolver algumas funções, mas com sérias limitações, então, devolver a visão, tratar uma doença, uma cegueira reversível, realmente é muito gratificante para o profissional, e realmente é uma sensação indescritível, porque você está praticamente devolvendo a vida a outra pessoa; um ser humano que estava com um problema sério, e agora pode voltar a suas atividades normais.

A Praça – A pandemia está deixando o mundo enxergando melhor, ou mais pessoas acometidas de doenças oculares?

Ariosto – A pandemia, é bom frisar, ela não acabou ainda, né? Nós estamos ainda num processo, claro que os casos diminuíram muito, graças a Deus, mais durante esses dois anos, muitas das doenças oftalmológicas deixaram de ser acompanhadas, deixaram de ser tratadas, porque as pessoas, primeiro tinham receio de realizar sua consulta oftalmológica, e segundo, porque, alguns serviços, principalmente os serviços públicos, onde realizavam os procedimentos cirúrgicos e tratamento, eles fecharam, para se dedicar à questão da pandemia. Então hoje nós estamos vendo casos, bastante difíceis, porque não tiveram acompanhamento adequado e que se agravaram, então a Pandemia, realmente ela trouxe um prejuízo muito grande, não só para a saúde oftalmológica, mas para a saúde de uma forma geral.

A Praça – No próximo dia 21 de maio haverá grande mobilização nacional, através do CBO-Conselho Brasileiro de Oftalmologista, em torno da prevenção do glaucoma. Ainda é a doença que mais incomoda o CBO? Por quê?

Ariosto – No Brasil nós temos hoje em torno de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual. Desses 45 milhões, em torno de 6 milhões são considerados deficientes visuais graves. Entre elas o glaucoma, retinopatia diabética, catarata, porém o glaucoma, é uma doença irreversível. Ou seja, se o paciente perdeu a visão, por causa do Glaucoma, ele não vai mais recuperar. Diferente da catarata, se ele perde a visão, é considerado cego, legalmente por causa da doença e faz o procedimento e volta a enxergar. Então aí está a importância de realizar os exames periódicos. Existem vários tipos de glaucoma, os congênitos, quando a criança já nasce com a doença, os secundários a procedimento cirúrgico, existe o Glaucoma secundário a Trauma, porém a grande maioria dos glaucomas, são os de ‘Ângulo Aberto’, que acometem os pacientes acima dos 30, 35 anos, nos casos em que as pessoas não têm nenhum sintoma e começam a desenvolver a doença. A maioria desses casos têm características genéticas, mas é importante que os pacientes, automíopes, paciente usuários de corte cóides, pacientes que sofreram trauma ocular, ou que tenha um histórico familiar importante envolvendo o Glaucoma, é importante que eles procurem o médico oftalmologista para fazer sua avaliação periódica. No consultório a gente vai realizar vários exames, e com isso vamos detectar a doença numa fase bem precoce, a fase bem mais fácil da doença ser tratada.

A Praça – Quais são os sintomas mais comuns do glaucoma?

Ariosto – O glaucoma é uma neuropatia ótica, ou seja, ela afeta o nervo ótico. O nervo ótico, ele leva as informações da luz da retina, para o cérebro, onde as imagens são processadas, principalmente no córtex visual. Então o que acontece? Essa doença ataca o nervo ótico e aos poucos, ele vai perdendo suas fibras e a luz não pode ser conduzida da retina para o córtex, região onde a visão é processada pelo nosso cérebro. Nas fases iniciais da doença, principalmente o glaucoma de ângulo aberto, crônico, ela não apresenta nenhum sintoma, porque o paciente tem uma visão de profundidade, tem uma visão, para longe normal, porém ele vai perdendo o seu campo de visão. Isso é imperceptível, nas fases iniciais da doença. Mas nós, temos como detectar, através de exames, né? Exames oftalmológicos, exames de imagem, podemos avaliar através de alguns exames de campo visual essa perda de visão, e com isso tratar a doença nas fases iniciais, daí porque a importância do paciente procurar o seu médico oftalmologista para fazer uma avaliação periódica. Só ele realmente é capaz de detectar se realmente o paciente apresenta alguma perda visual, principalmente de campo visual, e nós podermos detectar e pararmos o avanço dessa doença; que depois que o paciente perde, aquelas fibras nervosas, elas não se regeneram, ou seja, não tem procedimento cirúrgico que resolva, o processo é irreversível, já que o paciente já perdeu a visão. Por isso é importante ele tratar nas fases iniciais da doença.

A Praça – O glaucoma é capaz de provocar a cegueira definitiva no paciente? Se isto ocorrer é um processo irreversível?

Ariosto – O glaucoma é considerado uma neuropatia ótica e é uma doença que não apresenta sintomas nas fases iniciais. Daí porque, na maioria das vezes, o paciente, ele tem a doença e não procura assistência médica. E quando ele vem procurar, quando ele tem algum sintoma, principalmente o glaucoma de ângulo aberto, ele já tem perdido grande parte da visão. Então, existem vários tipos de glaucoma, é bom frisar, mas a maioria dos glaucomas crônicos, e que quando dão sintomas, ele já está numa fase avançada, por isso que a gente pede as pessoas que após os 40 anos procurem o seu oftalmologista, uma vez ao ano, porque só o médico oftalmologista, ele tem condição de detectar a doença numa fase mais precoce, que a fase mais fácil de você tratar. E você para, evita que a doença evolua. Então existem vários tratamentos, entre eles, os tratamentos medicamentosos, colírios, depois vem os tratamentos com laser, os procedimentos cirúrgicos, então a gente tem condição de controlar essa doença e evitar que a pessoa perca sua visão, por causa do glaucoma.

A Praça – O que a sociedade pode esperar nos próximos dez anos, em relação à saúde dos olhos?

Ariosto – 60% dos casos de deficiência visual são reversíveis. A população está num processo de conscientização sobre a necessidade da procura periódica do médico oftalmológico, se ela tiver algum tipo de deficiência. A maioria das doenças são os erros de refração, o próprio glaucoma, esta é uma doença que pode ser controlada, são pacientes que têm diabetes, podem desenvolver Retinopatia Diabética, então, todas essas doenças, elas podem ter um acompanhamento adequado, a gente pode controlar o problema, ou em alguns casos até curar, como é o caso da catarata ou os ‘erros de refração, que a gente resolve com o tratamento. O glaucoma, de uma forma diferente das outras doenças, ela não tem cura, mas tem controle, então é importante que a gente consiga diminuir esses quadros aí de ‘deficiência visual reversível’. Os próximos dez anos serão anos muito desafiadores para a nossa classe, porque nós passamos por uma pandemia, e muita gente deixou de realizar procedimento cirúrgico, acompanhamento de suas doenças oftalmológicas, e nós ainda estamos resolvendo os problemas daqueles pacientes que não conseguiram resolver durante esses dois danos aí de pandemia. Houve um atraso aí na reversão desses problemas, por conta desses dois anos, mas nós acreditamos que essas campanhas elas vêm para conscientizar a população da importância, cada vez mais, delas se preocuparem com esse órgão que é o órgão sensitivo mais importante do ser humano, já que 80% das informações que você recebe pelo Mundo, você recebe através de sua visão. As campanhas vão continuar em todos os Estados, para o próximo dia 21 já está programado em nível de rádio, TV, vários atores, influenciadores digitais estão se manifestando aí, se solidarizando com o dia de combate ao glaucoma em nosso país. Nós pedimos às pessoas que também busquem nesse dia se conscientizar olhar as redes sociais, principalmente do Conselho Brasileiro de Oftalmologista, da Sociedade Cearense de Oftalmologia, para que eles possam entender essas doenças de caráter reversível e busquem quando possível seu médico oftalmologista para fazer o seu acompanhamento periódico.