Entrevista: Dr. Oberdan Bezerra – Médico dermatologista

21/01/2023

Janeiro Roxo é o mês do ano cuja cor simbólica lembra a luta contra a hanseníase, doença secular que atravessa gerações e afeta milhões no mundo. As campanhas institucionais chamam atenção principalmente para o diagnóstico cedo, que ajuda no combate e controle da doença. Nesta edição do A Praça, o médico dermatologista Oberdan Bezerra tira dúvidas dos leitores sobre a patologia conhecida como ‘lepra’, que afeta o sistema nervoso e mexe com o psicológico das pessoas, principalmente por causa do preconceito e da discriminação

A Praça – Qual a importância que o senhor vê na campanha Janeiro Roxo, da luta contra a hanseníase?

Dr. Oberdan – Hanseníase é a doença mais antiga registrada. Há relatos dela no século VI antes de Cristo. Desde essa época ela consegue atingir toda a população mundial, daí a importância da campanha do Janeiro Roxo, campanha que poderia ser diária para que acabe o preconceito contra o paciente hanseniano, para que consigamos um tratamento precoce, para que os pacientes não apresentem as sequelas dessa doença, que tem cura.

A Praça – Quais são os primeiros sintomas da doença?

Dr. Oberdan – Quanto aos sintomas da hanseníase, são muitos e podem começar por manchas na pele que podem ser de cor mais clara mais esbranquiçadas ou avermelhadas com perda e alteração de sensibilidade tanto para calor quanto dor e tato, formigamento, sensação de agulhada, cãibras tanto nos membros superiores como membros inferiores, há também uma diminuição de força muscular e dificuldade, por exemplo, para pegar objetos,  há sintomas de dores em região de trajeto neural devido acometimento neural da doença, lesão  de pele muito ressecada com perda de pelos, nódulo lá pelo corpo, irritação nos olhos e ferimentos que acometem a região do nariz.

A Praça – Apesar de ser considerada doença crônica, há chances de cura?

Dr. Oberdan – Sim. Hanseníase é uma doença curável. Cura esta que se dá após a poli quimioterapia, tratamento de hanseníase. No caso nós temos dividida em pauxi bacilar e multi bacilar com tratamento de seis meses e tratamento de um ano. Após esse tratamento, o paciente já é considerado curado da hanseníase.

A Praça – A pessoa que tem a doença e ainda não tem diagnóstico pode estar transmitindo? Como se dá a transmissão?

Dr. Oberdan – Sim. A pessoa que tem a doença e não teve o diagnóstico ainda pode estar transmitindo. Lembrando que a forma de hanseníase que é transmissível é a forma multibacilar e essa transmissão se dá através de gotículas de saliva, de espirros, de compartilhamento de talheres. Devido a isso, todos os contatos próximos devem ser examinados.

A Praça – Como a hanseníase se manifesta no corpo da pessoa? Até o sistema nervoso é afetado?

Dr. Oberdan – Ela se manifesta no corpo geralmente a partir de manchas na pele que podem ser brancas ou esbranquiçadas, avermelhadas ou até em alguns casos arroxeadas. Também essas manchas têm como característica uma diminuição ou perda de sensibilidade, de dor, ao toque, à temperatura. O pessoal que é mais novo não viu a propaganda na televisão que mostrava uma mulher colocando uma panela no fogão para esquentar e queimava o braço, mas não sentia. Aí está a alteração térmica. Dái a importância de campanha de alerta para o diagnóstico precoce e tratamento da hanseníase. A doença tem acometimento neural cujo bacilo se aloja nos nervos e acaba causando perda da capacidade de utilização do membro afetado além das fortes dores que as sequelas causam, como mão em garra e pé caído.

A Praça – O tratamento é feito à base de medicação? Quando o paciente deixa de transmitir?

Dr. Oberdan – O tratamento da hanseníase é feito através de uma poliquimioterapia em usos das drogas rifampicina, dapsona clofazimina. Esse tratamento já impede a transmissão a partir da primeira dosagem da medicação, daí a importância do diagnóstico precoce e do tratamento precoce desta doença. É assim que a gente consegue fazer com que as pessoas não consigam contaminar outras. É importantíssimo alerta tanto do diagnóstico quanto tratar precocemente. É uma doença que tem bastante preconceito, mas tem cura. Então, o paciente deve procurar o dermatologista. Lembro-lhes que todo tratamento é custeado no SUS.

A Praça – Os pacientes diagnosticados com hanseníase sofrem mais com a doença ou com o preconceito?

Dr. Oberdan – Os pacientes sofrem tanto com preconceito quanto com a doença que até certo grau causa incapacitação, dependendo da sequela ou da má adesão ao tratamento e serve de alerta para o paciente que vai usar a medicação. Quanto ao preconceito, essa campanha se mostra primordial, pois é ela que vem esclarecer as dúvidas para que esse preconceito acabe.

A Praça – A doença pode incapacitar a pessoa para o trabalho?

Dr. Oberdan – Sim. A hanseníase pode incapacitar pessoas ao trabalho, dependendo do grau de sequela a dificuldade em deambular, pegar ou manusear objetos também tem pacientes que fazem a mão em garra que incapacita pegar todo e qualquer tipo de objeto visto que não há movimentação do pé caído, além das neurites dores causadas pelo espessamento dos nervos oriundos do bacilo.

Perfil

Oberdan Bezerra é médico, formado em 2014 pela ITPAC-Porto, Tocantins. Possui especialização em Saúde da Família e Comunidade, em Dermatologia pela ISBRAE, com preceptoria da UFCA (Cariri).

MAIS Notícias
Entrevista: Jader Mendonça – Médico Proctologista
Entrevista: Jader Mendonça – Médico Proctologista

“O câncer de intestino tem um fator genético, que é inerente da pessoa, que já nasce com ele, e existem os fatores ambientais. Dentre os fatores ambientais, existe o tabagismo, o etilismo (álcool), a obesidade, o sedentarismo, e existem também os fatores relacionados...

Lu Basile: curadora da exposição do MIS sobre Humberto Teixeira
Lu Basile: curadora da exposição do MIS sobre Humberto Teixeira

A professora do curso de pós-graduação em Artes (UFC) e do curso de Música (UECE), Lu Basile é a curadora de uma exposição sobre a trajetória e obra do músico e poeta iguatuense Humberto Teixeira. Com o tema: “Quando o sertão ganhou o mar - a obra de Humberto...

Entrevista – Dom Geraldo Freire Bispo Diocesano de Iguatu
Entrevista – Dom Geraldo Freire Bispo Diocesano de Iguatu

No último dia 6 de agosto, completou o 1º ano da posse do novo bispo da Diocese de Iguatu, Dom Geraldo Freire. Sobre como tem sido este primeiro ano na Terra da Telha, em sua missão como novo bispo, sua adaptação à região e desafios enfrentados, Dom Geraldo conta em...

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *