Entrevista – Edienne Mendonça Lima, Psicóloga

“O estado depressivo e ansioso precisa de escuta, acolhida, compreensão, intervenção profissional e familiar. Esse estado de funcionamento precisa ser compreendido de acordo com a vivência do sujeito”..

10/09/2022

No Setembro Amarelo, mês considerado simbólico para a mobilização de profissionais e instituições de saúde, na prevenção dos casos de suicídio, o A Praça traz nesta ediçã, entrevista com a psicóloga Edienne Mendonça Lima, que fala sobre as campanhas voltadas para a valorização da vida e métodos preventivos das ocorrências

A Praça – Qual a importância que a senhora vê neste mês simbólico ‘Setembro Amarelo’?

Edienne – Setembro Amarelo é o mês da campanha nacional de conscientização sobre a prevenção ao suicídio. O foco principal da campanha tem como objetivo dialogar sobre a importância e a necessidade que devemos ter com nossa saúde mental e a atenção devida aos sinais e sintomas depressivos ou suicida em familiares e amigos. É importante ressaltar que a necessidade do cuidado com a saúde mental e a manutenção de uma qualidade de vida devem estar presentes todos os dias para a prevenção de doenças.

A Praça – As estatísticas revelam que as doenças mentais, principalmente ansiedade e depressão, têm aumentado significativamente. Isso pode ter relação com sequelas da pandemia?

Edienne – Sim, com certeza! O impacto causado pela pandemia nos afetou bruscamente. Os efeitos produzidos por este fenômeno mexeram profundamente com a estrutura de nossas relações e com a vida social em geral. Não estávamos preparados, fomos surpreendidos com uma mudança radical em nosso modo de vida. Além do medo e a incerteza de uma cura, do tempo que deveríamos nos manter isolados, passamos por outros diversos eventos assombrosos. A perda de entes queridos, amigos e pessoas próximas, o medo da contaminação, o isolamento, o desemprego, entre outros. Estes eventos inesperados e intensos nos levaram a ‘experienciar’ uma realidade incomum, convocando toda a estrutura mundial a uma readaptação urgente. O índice elevado de ansiedade e depressão na pandemia tem relação direta com a falta de recursos internos e externos para esta vivencia inesperada. Ou seja, não estávamos com condições humanas e social para essa vivencia. Fomos convocados a desenvolver em tempo hábil ações de enfrentamento para superar toda essa situação difícil gerada pela Covid-19.

A Praça – As faixas etárias diagnosticadas estão centradas desde a infância até a terceira idade?

Edienne – A depressão é um problema global que afeta todo tipo de pessoa, independente de faixa etária e condições socioeconômicas. As pessoas que manifestam esse estado de adoecimento são acometidas por uma espécie de sofrimento que prejudica de forma considerável o funcionamento da vida. O problema não prejudica somente as funções psíquicas ou no humor do sujeito, mas também atinge sua funcionalidade física. É imprescindível o acompanhamento adequado tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento para que o sujeito tenha um melhoramento na qualidade de vida.

A Praça – A senhora faz trabalho voluntário em escolas da rede pública, lidando com estudantes. Como o ambiente escolar pode contribuir para identificar os jovens com ansiedade ou depressão, para buscar ajuda?

Edienne – É importante destacar, inicialmente, que o próprio ambiente escolar pode ser um espaço adoecedor por diversos desafios que surgem ao longo das fases escolar. Dentre elas destaco a sobrecarga de atividades, as exigências e preocupações quanto a entrega de resultados positivos e satisfatórios, a competitividade, apresentações em público, mudanças hormonais, aprovação social, bullying, entre outros desafios. Além disso, muitos alunos fazem parte de ambientes familiar desestruturado e adoecedor. A cobrança excessiva muitas vezes faz parte do ambiente escolar e familiar gerando um alto índice de adoecimento. Estabelecer um espaço de acolhimento e escuta dentro do ambiente escolar é uma estratégia que pode ajudar o aluno a expressar suas angustias, estresses, medos entre outras vivencias difíceis para ele. A partir disso, a escola deverá realizar orientações ao aluno e a família, quanto a necessidade de buscar ajuda profissional para casos mais graves e urgentes em que a escola não possa dar suporte necessário.

A Praça – Quais os caminhos que a Psicologia orienta para oferecer suporte para quem está no centro das crises de ansiedade ou depressão?

Edienne – Em casos pontuais de crises de ansiedade, algumas dicas básicas como técnicas de relaxamento buscando tirar o foco e a atenção da crise; ouvir músicas relaxantes ou conversar com alguém que o acalme e consiga distraí-lo; algumas técnicas para concentrar-se no momento presente como listar o que está no campo visual ou olfativo da pessoa em crise, ou o contato físico com o gelo, por exemplo, para ativação de receptores neurológicos que levem ao relaxamento; a técnica de controle de respiração é uma técnica essencial por ser ela responsável por controlar todo nosso corpo. Em casos recorrentes de crises de ansiedade é importante buscar o acompanhamento de um especialista como o psiquiatra e o acompanhamento psicológico. Essa recomendação é importante por haver diferentes tipos de ansiedade e que precisa ser devidamente identificada e diagnosticada para receber um tratamento adequado. Sabendo que o estado depressivo afeta diretamente no funcionamento saudável do ser e o comprometimento do humor e sua motivação em atividades diárias, é importante estimular as mais diversas questões relacionadas ao movimento normal desse sujeito. É preciso paciência e compreensão para quem vivencia esse estado adoecido, e entender quando este empenha esforço para pequenas ações que sinalizam uma tentativa de superar o estado acometido. É preciso estimular e valorizar os pequenos esforços. Além do mais, é indispensável o acompanhamento profissional para o diagnóstico e tratamento adequado.

A Praça – As pessoas alcançadas por essas doenças mentais necessitam de ajuda. É importante evitar isolamento e oferecer a ‘escuta’ para elas?

Edienne – Sim. O estado depressivo e ansioso precisa de escuta, acolhida, compreensão, intervenção profissional e familiar. Esse estado de funcionamento precisa ser compreendido de acordo com a vivência do sujeito com a finalidade de compreender a influência dessa vivencia com o seu movimento de vida. É importante entender qual a mensagem existencial que essa ansiedade ou depressão quer comunicar. Ou seja, compreender quais situações levaram ao comprometimento de sua funcionalidade normal. E a partir disso ajudá-lo no processo de retomada de um novo ajuste de vida. O apoio e acompanhamento de familiares e amigos nesses casos são imprescindíveis.

A Praça – Como identificar uma pessoa com sinais de ansiedade? O corpo grita pedindo socorro, ou existem casos em que o silêncio do paciente é o maior risco?

Edienne – O efeito da ansiedade sempre comunica sinais psicológicos e físicos. Os mais comuns são manifestos pela falta de ar ou respiração ofegante, dor no peito e batimentos cardíacos acelerados, preocupação excessiva, a insônia, o medo irracional, tensão muscular, problemas digestivos, medo de eventos sociais, sensação de constrangimento e crises de pânico. O diagnóstico é realizado a partir de análise clínica que observa a ocorrência dos sinais da doença, bem como histórico pessoal e familiar.

A Praça – Independente dos efeitos pandêmicos, que outros fatores podem contribuir para o surgimento de casos de depressão e ansiedade?

Edienne – São diversos os fatores que geram e contribuem para o surgimento do transtorno da ansiedade e a depressão. Estes, por sua vez, são de ordem ambientais, biológicas, hereditárias. Outras causas existentes que podem vir a desencadear o transtorno de ansiedade são os traumas, o estresse, doenças físicas e até mesmo a depressão. É comum quadros de pacientes que alternam entre a ansiedade e quadros de depressão, pois uma condição pode gerar a outra.

Perfil

Edienne Mendonça Lima é psicóloga clínica, atende com foco na abordagem Gestalt Terapia; graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Doutor Leão Sampaio – Unileão, pós-graduanda em Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica pela FAVENI, atende na clínica SALUD, localizada na Rua Dr. João Pessoa, 375. Bairro Centro, em Iguatu-CE.

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